Depois de 10 subidas consecutivas, chegou o planalto. O Banco Central Europeu (BCE) decidiu que não vai subir este mês as taxas de juro na Zona Euro, optando pela manutenção dos valores atuais. O ciclo de subidas consecutivas chega ao fim, numa decisão motivada sobretudo pela descida da inflação. Mas o que trarão os próximos meses?
O BCE anunciou hoje a decisão do Conselho de Governadores de outubro: as três taxas de juro de referência da Zona Euro vão manter-se, sem uma nova subida.
Desta forma, as três taxas diretoras continuam nos valores atuais, definidos pelo Conselho de Governadores de setembro. A taxa das operações principais de refinanciamento está em 4,50%, a taxa da facilidade permanente de depósito em 4,00% e a taxa de facilidade permanente de cedência de liquidez em 4,75%.
“O Conselho do BCE decidiu hoje manter as três taxas de juro diretoras inalteradas”, refere o comunicado do Banco Central. A evolução da inflação justifica a decisão da entidade presidida por Christine Lagarde. No comunicado, é referido que “com base na sua atual avaliação, o Conselho do BCE considera que as taxas de juro diretoras estão em níveis que, se forem mantidos por um período suficientemente longo, darão um contributo substancial para esse fim [meta de 2% de inflação defendida pelo BCE]”.
De recordar que, em setembro, o BCE tinha decidido subir as taxas de juro em 25 pontos base, naquela que foi a décima subida consecutiva e que elevou as taxas diretoras para níveis históricos.
No espaço de 15 meses, entre julho de 2022 e setembro de 2023, BCE subiu as taxas diretoras num total de 450 pontos base (4,5 pontos percentuais). O objetivo do Banco Central foi, numa estratégia agressiva, usar taxas de juro restritivas como forma de combater a inflação sentida na Zona Euro.
Uma decisão esperada
No mês passado, Christine Lagarde já tinha dado alguns sinais de que o momento de pausar aumentos das taxas estaria para breve. A evolução da inflação fez confirmar esse cenário, algo já antecipado por diversos analistas.
“Ainda se espera que a inflação permaneça demasiado elevada durante demasiado tempo, e as pressões internas sobre os preços permanecem fortes”, indica hoje o BCE, acrescentando que “a inflação desceu consideravelmente em setembro, incluindo devido a fortes efeitos de base, e a maioria das medidas da inflação subjacente continuou a abrandar”.
Em setembro, a inflação da Zona Euro foi de 4,3%, num mínimo de dois anos. Os valores estão longe dos máximos de 10,6% registados em outubro de 2022, mas ainda assim a alguma distância dos desejados 2%.
O Banco Central considera que o ciclo de aumentos consecutivos “continuam a ser transmitidos de forma vigorosa às condições de financiamento” e que isso “está cada vez mais a atenuar a procura, ajudando, desse modo, a reduzir a inflação”.
Face às elevadas taxas de juro na Zona Euro, a procura de crédito baixou para famílias e empresas no terceiro trimestre. Também os bancos europeus endureceram o acesso a crédito, com condições mais restritas para empréstimos para habitação e consumo. Os dados foram divulgados pelo BCE na passada terça-feira, dia 24 de outubro. Na base destas restrições da banca estão a perceção do risco, o perfil das famílias e a menor liquidez.
E nos próximos meses?
A mensagem de hoje deixa claro que o BCE não vai deixar de estar atento aos indicadores. Um possível agravamento nos próximos meses mantém-se em cima da mesa. Já uma redução dos níveis atuais não parece um cenário provável para breve.
“As futuras decisões do Conselho do BCE assegurarão que as taxas diretoras sejam fixadas em níveis suficientemente restritivos, durante o tempo que for necessário”, refere o Banco Central, em comunicado, acrescentando que “as decisões do Conselho do BCE sobre as taxas de juro continuarão a basear‑se na avaliação das perspetivas de inflação, à luz dos dados económicos e financeiros que vão sendo disponibilizados, da dinâmica da inflação subjacente e da força da transmissão da política monetária”.
Para que servem as taxas de juro do BCE?
Estas são as taxas de juro que o BCE cobra aos bancos pelos empréstimos concedidos ou que paga pelos depósitos dos bancos.
A taxa relativa às operações de refinanciamento define os juros cobrados aos bancos da Zona Euro para contrair empréstimos junto do BCE pelo prazo de uma semana. A taxa de facilidade permanente de depósitos determina os juros que os bancos recebem pelos depósitos junto do BCE. A taxa de cedência de liquidez determina os juros a pagar pelos bancos em caso de empréstimo junto do BCE, mas pelo prazo de um dia (overnight).
Impacto no crédito à habitação
Os juros de referência do BCE têm impacto nas taxas de juro dos empréstimos e dos depósitos praticados pelos bancos europeus – e, no final da cadeia, na prestação do crédito à habitação que as famílias pagam ao seu banco.
Mesmo perante a decisão de hoje de manutenção, o BCE não apresenta sinais de querer reduzir, nos próximos meses, as taxas de referência. Por isso, mesmo sem agravamentos mensais, as prestações devem manter-se em níveis elevados nos próximos tempos.
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