Nos manuais de economia e finanças aprendemos que os mercados são eficientes. A teoria dos mercados racionais, ancorada na hipótese de eficiência de mercado, parte do pressuposto de que os preços dos ativos incorporam toda a informação disponível e que os agentes económicos agem de forma lógica e previsível. No entanto, a realidade mostra-se substancialmente mais complexa e, em muitos momentos, distante desses pressupostos teóricos.
E basta relembrar casos como a bolha das DotCom ou a crise do ´subprime´ são exemplos evidentes de desvios profundos à racionalidade esperada. Nessas alturas, os mercados valorizaram empresas sem fundamentos sustentáveis ou atribuíam risco inadequado a ativos de baixa qualidade. O comportamento coletivo não refletia uma análise rigorosa, mas sim uma dinâmica de contágio emocional, de euforia ou de pânico.
Mesmo em períodos de relativa estabilidade, observa-se frequentemente uma oscilação entre otimismo e pessimismo nos mercados que não é justificada por alterações nos fundamentos económicos. A psicologia humana, as narrativas dominantes e os incentivos distorcidos desempenham um papel central na forma como os ativos são avaliados e transacionados. E como tantas vezes partilho com os meus alunos, a parte comportamental desempenha um papel fundamental também nesta área.
Embora os modelos quantitativos e a análise fundamental continuem a ser ferramentas essenciais na avaliação de ativos, os mercados demonstram ser extremamente sensíveis à perceção e ao sentimento dominante. O valor atribuído a uma empresa ou a um setor pode ser fortemente influenciado por fatores subjetivos, como a confiança num determinado gestor, uma tendência tecnológica emergente ou um contexto político mais favorável.
Este fenómeno é amplificado pelas redes sociais, pelos meios de comunicação e, cada vez mais, pelos algoritmos que reagem instantaneamente a notícias, opiniões ou flutuações de curto prazo. O que se constata é que a formação de preços incorpora não apenas informação objetiva, mas também expectativas, emoções e, muitas vezes, interpretações enviesadas. E nos últimos momentos isso é bem visível.
A irracionalidade dos mercados tem implicações relevantes para o investidor individual. Muitos tomam decisões movidos pelo medo ou pela ganância, comprando ativos em momentos de euforia e vendendo em fases de queda acentuada, repetindo ciclos de comportamento prejudiciais. A crença de que se pode antecipar consistentemente o mercado, ou que há lógica linear no comportamento dos preços, tende a conduzir a erros sistemáticos.
O investidor consciente deve reconhecer que o mercado, embora baseado em informação e análise, não é um sistema puramente racional. A disciplina, a gestão de risco, o foco no longo prazo e a capacidade de lidar com a incerteza são, muitas vezes, mais determinantes para o sucesso do que qualquer tentativa de prever movimentos de curto prazo.
Admitir a irracionalidade dos mercados é um passo necessário para compreender o seu verdadeiro funcionamento. Não se trata de desacreditar o seu papel fundamental na economia, mas de aceitar que os preços não são meros reflexos de lógica fria, e sim o resultado de um tecido complexo de emoções, interesses e imperfeições cognitivas.
Por isso, mais do que acreditar que os mercados são racionais por natureza, é essencial manter um olhar atento e crítico. A racionalidade não está nos mercados. Está na forma como cada um escolhe navegar dentro deles.