O Banco Central Europeu (BCE) volta a reduzir as taxas de juro diretoras da Zona Euro. A decisão surge um dia depois de a Reserva Federal dos Estados Unidos ter anunciado que, no bloco norte-americano, as taxas de juro vão manter-se inalteradas.
Era o esperado pelos analistas: o BCE comunicou hoje, dia 30 de janeiro, um novo corte das taxas de juro diretoras. As taxas serão reduzidas em 25 pontos base (0,25%).
Desta forma, estas são as três taxas de juro de referência, com efeitos a partir de 5 de fevereiro de 2025:
- Taxa de facilidade permanente de depósitos: passa de 3,00% para 2,75%.
- Taxa de juro das operações principais de refinanciamento: passa de 3,15% para 2,90%.
- Taxa de facilidade permanente de cedência da liquidez: passa de 3,40% para 3,15%.
“A decisão de reduzir a taxa de juro aplicável à facilidade permanente de depósito – a taxa através da qual o Conselho do BCE define a orientação da política monetária – baseia‑se na avaliação atualizada do Conselho do BCE das perspetivas de inflação, da dinâmica da inflação subjacente e da força da transmissão da política monetária”, refere o BCE, em comunicado.
Depois de quatro cortes em 2024 (junho, setembro, outubro e dezembro), a decisão de hoje continua a rota de alívio das taxas de juro por parte do BCE.
Com a descida das taxas, as condições dos empréstimos (novos e prestações a decorrer) tendem a diminuir, num alívio para as famílias. Por outro lado, estes cortes implicam, tendencialmente, uma redução dos juros associados a produtos de poupança.
O BCE explica que “as recentes reduções das taxas de juro decididas pelo Conselho do BCE estão a tornar gradualmente a contração de novos empréstimos menos onerosa para as empresas e as famílias”. Ainda assim, “as condições de financiamento mantêm‑se restritivas, também porque a política monetária continua a ser restritiva e os passados aumentos das taxas de juro ainda estão a ser transmitidos ao stock de crédito, com alguns empréstimos vincendos a ser renovados a taxas mais elevadas”.
“O processo desinflacionista está bem encaminhado”
A política recente do BCE em relação às taxas de juro tem sido baseada, sobretudo, na gestão da pressão inflacionista na Zona Euro. Primeiro com uma subida muito restritiva das taxas de juro em 2022 e 2023, para responder à inflação acelerada. Depois, perante os sinais de abrandamento da inflação, com um alívio gradual das taxas desde 2024.
No entanto, o final do ano trouxe uma re-aceleração da inflação. No último trimestre de 2024, a taxa de inflação subiu consecutivamente, fechando em 2,4% em dezembro. O objetivo de longo prazo do BCE é que a inflação fique controlada num patamar de 2%.
Mas, se a inflação aumentou, o que leva o BCE a continuar o corte das taxas?
A instituição europeia reconhece que “a inflação interna permanece elevada, sobretudo porque os salários e os preços em determinados setores ainda estão a ajustar-se, com um desfasamento substancial, à anterior subida acentuada da inflação”.
No entanto, de acordo com o comunicado do BCE, “o processo desinflacionista está bem encaminhado” e as projeções indicam um regresso do objetivo médio de 2% “no decurso deste ano”.
Mais do que olhar apenas para os dados da inflação, o BCE está também a acompanhar a evolução económica da Zona Euro e a reagir aos indicadores de arrefecimento económico. “A economia continua a enfrentar fatores adversos, mas o aumento dos rendimentos reais e o desvanecimento gradual dos efeitos da política monetária restritiva deverão apoiar uma subida da procura com o tempo”, pode ler-se no comunicado.
Próximas decisões
Como habitual, a instituição não se compromete com decisões futuras em relação à trajetória das taxas de juro. “As decisões do Conselho do BCE sobre as taxas de juro basear‑se‑ão na sua avaliação das perspetivas de inflação, à luz dos dados económicos e financeiros que forem sendo disponibilizados, da dinâmica da inflação subjacente e da força da transmissão da política monetária”, relembra o BCE.
Em paralelo, é esperado que a instituição liderada por Christine Lagarde esteja também atenta à evolução das pressões tarifárias anunciadas por Donald Trump e possíveis consequências para o bloco europeu.
Do outro lado do Atlântico, a Reserva Federal (Fed) dos Estados Unidos decidiu quarta-feira, dia 29, manter inalteradas as taxas de juro norte-americanas. Depois de três cortes consecutivos desde setembro de 2024, a Fed fez uma pausa e mostra alguma cautela na trajetória das taxas.
As mais recentes perspetivas da Fed são relativamente otimistas em relação ao mercado de trabalho, embora com aparentemente menos confiança na evolução da inflação. Em dezembro, a taxa de inflação norte-americana subiu para os 2,9%, sendo que também a Fed procura uma meta de longo prazo de 2%.