Monstros e dinheiro partilham um dia no calendário. A dia 31 de outubro, celebram-se, coincidentemente, o Dia Mundial da Poupança e o Dia das Bruxas, ou Halloween. Por esse motivo, hoje trazemos-lhe, no MoneyLab, algumas histórias de terror que o vão impressionar. Tenha em conta, no entanto, que estas não são histórias de ficção com o sobrenatural, mas sim factos sobre finanças pessoais – bem mais assustadores do que um fantasma ao fundo da cama.
Explore estes factos, mas sem medos. É que, neste dia de sustos e poupanças, partilhamos também consigo a melhor forma de se proteger contra estes terrores financeiros.
1. As pessoas não estão preparadas para emergências financeiras
Para o orçamento das famílias, mais assustador do que uma criatura paranormal é a possibilidade de uma despesa inesperada avultada. Reparações em casa, uma avaria no automóvel ou um eletrodoméstico por arranjar são pesadelos que desequilibram os orçamentos e podem trazer consequências graves às finanças familiares.
Ainda assim, os factos sobre finanças pessoais dizem-nos que muitas famílias não poupam o suficiente para fazer face a imprevistos. E, por isso, não têm capacidade para pagar uma despesa extraordinária sem recorrer às receitas do próprio mês – prejudicando todos os restantes compromissos e despesas.
Na Zona Euro, a taxa de poupança das famílias foi, em média, 14,9%, no segundo trimestre de 2023, de acordo com o Eurostat. Em Portugal, essa taxa é de 5,7, diz-nos o INE – Instituto Nacional de Estatística. Isso quer dizer que, por cada 100 euros de rendimento, as famílias portuguesas apenas conseguem poupar 5,7 euros. A juntar a estes dados, o Barómetro Deco Proteste de 2023 já dava conta, no início do ano, que 75% das famílias portugueses reconheciam ser difícil colocar algum dinheiro de parte.
O que pode fazer para se proteger?
Para enfrentar imprevistos financeiros, comece a constituir um fundo de emergência, ou seja, um pé-de-meia que sirva precisamente para cobrir surpresas desagradáveis sem comprometer o seu orçamento. As boas práticas de finanças pessoais recomendam que o fundo de emergência deve representar entre seis e 12 meses de despesas mensais. Comece de forma gradual a trabalhar para este objetivo.
2. A inflação “come” poupanças (e a conta à ordem também)
Tal como um vampiro, a inflação – aumento generalizado dos preços de bens e serviços – também “morde”. Isto é, a inflação leva a uma perda do poder de compra, quase como se “comesse” parte do seu dinheiro.
Imagine, por exemplo, um cenário em que tem o mesmo montante para compras, em 2020 e em 2023. Com a subida da inflação neste período, os produtos ficam mais caros e o mesmo montante de dinheiro compra menos coisas hoje do que antes.
Esta desvalorização do dinheiro afeta o seu poder de compra, no imediato, mas também corrói as suas poupanças. Ou seja, gradualmente, o dinheiro que consegue amealhar vai perdendo valor, naquele que é um facto de finanças pessoais assustador para a sua carteira.
A única forma de contrariar a “dentada” da inflação e não perder valor é não deixar o dinheiro parado – seja armazenado fisicamente debaixo do colchão ou parado numa conta à ordem. Ao investir, os ganhos que conseguir obter vão compensar ou minimizar o desgaste trazido com a inflação.
O que pode fazer para se proteger?
Contra o vampiro da inflação, colares de alho não chegam. Deve procurar não deixar o seu dinheiro parado, rentabilizando-o. No mercado, existem diversos produtos financeiros por onde escolher e diversificar a sua carteira, com diferentes rentabilidades e exposições ao risco que deve ter em conta nas suas decisões.
3. As taxas de juro na Zona Euro estão em máximos históricos
Não é um papão, mas um facto bem real: as taxas de juro diretoras da Zona Euro estão muito elevadas, em níveis históricos.
A instituição liderada por Christine Lagarde decidiu, na semana passada, manter os valores das taxas de referência, terminando um ciclo de 10 subidas consecutivas (desde julho 2022 e setembro 2023). Não há novas subidas, é certo, mas a manutenção significa que as taxas continuam em valores muito restritivos. A taxa de facilidade permanente de depósitos está nos 4%, o valor mais elevado de sempre. As outras duas taxas diretoras, a das operações principais de refinanciamento e a de facilidade permanente de cedência de liquidez estão, respetivamente, em 4,50% e 4,75%.
A subida acentuada das taxas foi uma estratégia do BCE para contrariar a inflação sentida na Zona Euro. Apesar de a inflação estar a abrandar – em setembro, foi de 4,3%, em mínimos de dois anos –, as taxas de juro elevadas dificultam novos empréstimos e o pagamento dos atuais, com as famílias a enfrentar prestações muito mais altas no crédito à habitação.
O que pode fazer para se proteger?
As elevadas taxas de juro significam que, por um lado, estará a pagar mais juros pelos créditos, mas também a receber maior rentabilidade em certos instrumentos financeiros. Neste cenário, deve proteger a sua carteira perante os seus empréstimos – pondere medidas como a renegociação de créditos, a consolidação de diferentes créditos num só, a amortização parcial ou total das dívidas (aproveitando, por exemplo, a isenção de comissões por amortização antecipada no crédito à habitação) –, mas não se esqueça de olhar também para as ofertas de produtos financeiros e tentar aproveitar a conjuntura para bons investimentos.
4. Fugir (dos mercados) nem sempre é a melhor opção
Há uma expressão brasileira que diz que “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”, retratando um cenário lose-lose, em que não há forma de vencer. Em dia de Halloween, pensemos num dos sustos para um investidor: ações da carteira a desvalorizar e mercados em queda. Perante este “bicho”, é melhor correr ou ficar?
Em primeiro lugar, é preciso ter em conta que a riqueza com ações é criada em décadas e não em algumas semanas ou meses. A paciência é uma virtude dos investidores e torna-se necessário olhar para o sobe e desce dos mercados com distanciamento emocional.
É importante, por isso, manter uma perspetiva de investimento de longo prazo, não entrando em pânico quando os mercados estão a cair ou quando os seus títulos estão a perder valor. Seja racional na abordagem a ter em conta. A perda só será real no momento da saída e, numa lógica de investimento de longo prazo, “correr” – ou seja, vender – nem sempre é a melhor opção.
O que pode fazer para se proteger?
Avalie o “bicho” que tem pela frente, sem pânico. Isto significa que, mesmo em queda, deverá tomar as suas decisões de venda (e de compra) de forma racional, avaliando sempre as perspetivas de longo prazo da empresa e da sua própria estratégia de investimento, com distanciamento emocional em relação à volatilidade no curto prazo. Por vezes será melhor manter o investimentos, noutros casos é melhor estancar a perda o quanto antes
5. A reforma não vai ser suficiente
As histórias de terror são pródigas em fantasmas do passado – mas e os fantasmas do futuro? Quando o tema são finanças pessoais, há um tópico particular do futuro que assusta muito: a reforma.
Projeções da Comissão Europeia apontam para que, daqui a 50 anos, as pensões sofram cortes de quase 60% em relação ao último salário. Isto significa que as pensões não serão suficientes para o estilo de vida de cada pessoa, uma vez que passarão a contar com menos de metade dos rendimentos de que dispunham na vida ativa.
O que pode fazer para se proteger?
Para garantir maior dignidade, conforto e rendimento disponível na reforma, o ideal é começar a preparar essa fase da sua vida o quanto antes, mesmo que este “fantasma do futuro” lhe pareça ainda algo demasiado longínquo para o assustar.
Para tal, pondere e prepare, ao longo do tempo, um complemento de reforma que lhe dê uma maior almofada financeira do que aquela que as pensões da Segurança Social lhe poderão dar, de acordo com as projeções. Investir num produto financeiro como um Plano Poupança Reforma (PPR) pode ser uma boa opção.
6. Ainda falta conhecimento sobre dinheiro
O conhecimento é a melhor preparação possível contra o que assusta. Isto é válido, sobretudo, quando falamos em finanças pessoais. Uma maior literacia financeira é uma alavanca para finanças pessoais e familiares mais organizadas, melhores decisões de investimento, melhores análises de risco, concretização de vários objetivos financeiros e, até, para atingir o tão desejado patamar da liberdade financeira.
No entanto, os dados demonstram que os níveis de literacia financeira continuam aquém. Na União Europeia, 64% dos cidadãos apresentam um nível médio de literacia financeira, sendo que os restantes dividem-se em polos opostos: 18% têm um baixo nível de literacia financeira e 18% um nível elevado. Os dados são do mais recente Eurobarómetro de Literacia Financeira, publicado em julho deste ano.
Em Portugal, os resultados são ligeiramente piores do que a média europeia, de acordo com a mesma fonte. Embora haja mais cidadãos com uma literacia financeira média (71%), é menor a percentagem de pessoas com elevada literacia financeira (11%). 19% dos portugueses têm um baixo nível de literacia financeira.
O que pode fazer para se proteger?
Invista em conhecimento e aprenda cada dia mais sobre dinheiro e gestão de finanças pessoais. A literacia financeira permite-lhe tomar decisões mais inteligentes, com menos risco e menos erros. Considere ainda que nunca se sabe tudo sobre um determinado tema: ainda que já tenha um nível elevado de literacia financeira, há sempre mais para aprender sobre dinheiro, mercados, instrumentos financeiros e estratégias.