Naquela que é a primeira decisão do ano do Banco Central Europeu (BCE) em relação às taxas de juro diretoras da Zona Euro, as notícias não surpreendem: as taxas de juro diretoras mantêm-se inalteradas, sem subidas, nem descidas. A instituição reforça que “as condições de financiamento restritivas estão a refrear a procura, o que está a ajudar a reduzir a inflação”.
O Conselho de Governadores do BCE decidiu hoje, 25 de janeiro, manter as taxas de juro diretoras da Zona Euro, face às perspetivas de inflação a médio prazo. Esta é a terceira decisão consecutiva de manutenção, por parte da instituição.
As taxas mantêm-se inalteradas – e em níveis históricos – desde setembro de 2023, data da última subida. A taxa das operações principais de refinanciamento está em 4,50%, a taxa da facilidade permanente de depósito em 4,00% e a taxa de facilidade permanente de cedência de liquidez em 4,75%.
“Com base na sua atual avaliação, o Conselho do BCE considera que as taxas de juro diretoras do BCE estão em níveis que, se forem mantidos por um período suficientemente longo, darão um contributo substancial para esse fim [de 2% de inflação como objetivo de médio prazo]”, indica o comunicado do Banco Central, apresentado por Christine Lagarde, presidente da instituição, em conferência de imprensa esta tarde.
A avaliação feita, à luz dos dados atuais, dá conta de que, com exceção de “um efeito de base em sentido ascendente na inflação global relacionado com os produtos energéticos, a tendência descendente da inflação subjacente prosseguiu e os anteriores aumentos das taxas de juro continuam a ser transmitidos de forma vigorosa às condições de financiamento”.
Entre julho de 2022 e setembro de 2023, o BCE subiu as taxas diretoras em 450 pontos base (4,5 pontos percentuais). O objetivo foi usar estes valores restritivos como forma de combater a inflação na Zona Euro.
Primeiras descidas? É “provável” que só no verão
A decisão de manter as taxas inalteradas não surpreendeu, uma vez que os membros do BCE já tinham sido claros nas indicações deixadas durante o fórum de Davos da semana passada: não há pressas de relaxar a política monetária no curto prazo.
Em entrevista à Bloomberg, à margem de Davos, Christine Lagarde, apontou que será “provável” que as taxas de juro diretoras comecem a descer este verão. Mas não antes disso. O Banco Central não quer correr o risco de aliviar os juros cedo demais – prejudicando o controlo da inflação até à meta estipulada de 2% e levando a novos aumentos das taxas diretoras.
Ainda assim, as futuras decisões do Conselho de Governadores vão sempre depender dos dados agregados da Zona Euro, tanto em termos do controlo da inflação, como de outros indicadores macroeconómicos.
O comunicado de hoje do Conselho do BCE corrobora esta posição: “as decisões do Conselho do BCE sobre as taxas de juro basear-se-ão na sua avaliação das perspetivas de inflação, à luz dos dados económicos e financeiros que forem sendo disponibilizados, da dinâmica da inflação subjacente e da força da transmissão da política monetária”.
E, tal como nas anteriores reuniões do Conselho, mantém-se o aviso: “as taxas diretoras serão fixadas em níveis suficientemente restritivos durante o tempo que for necessário”.
Para que servem as taxas de juro diretoras?
As taxas de juro diretoras são taxas que o BCE cobra aos bancos pelos empréstimos concedidos ou que paga pelos depósitos dos bancos.
A taxa relativa às operações de refinanciamento define os juros cobrados aos bancos da Zona Euro para contrair empréstimos junto do BCE pelo prazo de uma semana. A taxa de facilidade permanente de depósitos determina os juros que os bancos recebem pelos depósitos junto do BCE. A taxa de cedência de liquidez determina os juros a pagar pelos bancos em caso de empréstimo junto do BCE, mas pelo prazo de um dia (overnight).
Os juros de referência do BCE têm impacto nas taxas de juro dos empréstimos e dos depósitos praticados pelos bancos europeus – e, no final da cadeia, na prestação do crédito à habitação que as famílias pagam ao seu banco.
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Inflação, emprego e riscos geopolíticos
Os dados agregados dos Estados-Membros servem de base às decisões regulares do Conselho sobre as taxas de juro e demais política monetária. Na análise macroeconómica do BCE, também partilhada na conferência de imprensa de hoje, a instituição avança que a economia da Zona Euro dá sinais de ter estagnado no último trimestre. Os indicadores dão conta de que o abrandamento se mantém no curto prazo, ainda que seja esperada uma retoma do crescimento mais à frente.
A evolução da inflação tem sido o foco do BCE e, nesse campo, os dados de dezembro indicam uma ligeira subida para 2,9% (motivada pela não contabilização de algumas medidas fiscais de amortecimento dos preços energéticos elevados). Fora este efeito de base, manteve-se a tendência decrescente da inflação, com uma descida dos preços alimentares para 6,1% em dezembro.
Os dados do emprego na Zona Euro continuam favoráveis. A taxa de desemprego de novembro foi de 6,4%, o nível mais baixo desde o início do Euro.
Quanto aos fatores geopolíticos, o BCE destacou mais uma vez a guerra na Ucrânia e o conflito no Médio Oriente como fontes dos principais riscos ao crescimento económico.