Não há duas sem três. Na reunião de outubro, o Banco Central Europeu (BCE) tomou a decisão de voltar a diminuir as taxas de juro diretoras da Zona Euro. É a terceiro corte do ano, depois das reduções de junho e de setembro.
O Conselho de Governadores do BCE reuniu hoje, 17 de outubro, e a decisão foi a que já era esperada, tendo em conta a trajetória da inflação e as declarações recentes da presidente do BCE, Christine Lagarde: um corte das três taxas diretoras em 25 pontos base (0,25%).
Esta é a primeira vez, em 13 anos, que o BCE opta por cortes consecutivos nas taxas diretoras.
“Em particular, a decisão de reduzir a taxa de juro aplicável à facilidade permanente de depósito – a taxa através da qual o Conselho do BCE define a orientação da política monetária – baseia‑se na avaliação atualizada do Conselho do BCE das perspetivas de inflação, da dinâmica da inflação subjacente e da força da transmissão da política monetária”, pode ler-se no comunicado do BCE.
Com entrada em vigor a partir de 23 de outubro de 2024, as três taxas definidas pelo BCE passam a ser as seguintes:
- A taxa de facilidade permanente de depósito passa de 3,50% para 3,25%
- A taxa de juro das operações principais de refinanciamento passa de 3,65% para 3,40%
- A taxa de facilidade permanente de cedência de liquidez passa de 3,90% para 3,65%.
Inflação favorável, mas sem descurar atenções
O BCE destaca a trajetória da inflação na Zona Euro como um dos principais indicadores na base da decisão. De acordo com os dados divulgados hoje pelo Eurostat, a taxa de inflação desacelerou mais do que o esperado e chegou a 1,7% em setembro (as previsões apontavam para 1,8%).
Em três anos, esta é a primeira vez que a taxa de inflação fica abaixo da meta de 2% estabelecida pelo BCE. De relembrar que, no pós-pandemia, o pico da inflação foi de 10,6%, em outubro de 2022.
“A informação que tem vindo a ser disponibilizada sobre a inflação indica que o processo desinflacionista está bem encaminhado”, informa o comunicado do BCE, que acrescenta que “a inflação deverá subir nos próximos meses, descendo depois para o objetivo [de 2%] no decurso do próximo ano”.
No entanto, há outros indicadores que estão a merecer a atenção do BCE, relacionados com a atividade económica da Zona Euro. “As perspetivas de inflação também são afetadas por recentes surpresas em baixa dos indicadores da atividade económica”, adianta o Banco Central. O BCE refere ainda que “a inflação interna mantém‑se alta, porque os salários ainda estão a aumentar a um ritmo elevado”.
O BCE continua a ser muito cauteloso em relação a futuras descidas e à velocidade do alívio da política monetária, depois de 2022 e 2023 terem visto um ciclo restritivo de subidas rápidas, para travar a inflação. “O Conselho do BCE não se compromete previamente com uma trajetória de taxas específica”, destaca o comunicado.
Reforçando que o objetivo é assegurar o objetivo de médio prazo da inflação de 2%, as decisões do BCE continuarão “a seguir uma abordagem dependente dos dados e reunião a reunião na definição do nível e da duração adequados da restritividade”.
Do lado dos Estados Unidos, depois de um primeiro corte nos juros em setembro (0,5%), as expetativas apontam para um novo corte da Reserva Federal na reunião de novembro. Ainda assim, os analistas passaram de uma previsão de corte de 0,5% para 0,25%.
Qual o impacto na sua carteira?
Os cortes nas taxas diretoras acabam por influenciar as taxas de juro praticadas pelos bancos e a economia, como um todo, na Zona Euro.
Ao aliviar a política monetária para níveis menos restritivos, a orientação do Banco Central vai ser refletida nas taxas Euribor e, consequentemente, numa previsível descida das prestações a pagar ao banco por créditos à taxa variável (que tem como referência as Euribor). As condições dos novos empréstimos têm também tendência a ficar mais baratas.
A taxa Euribor a 6 meses está atualmente a 3,036%, um mínimo desde março de 2023. A Euribor a 12 meses fixa-se em 2,717% e a Euribor a 3 meses está em 3,219%.
Por outro lado, as poupanças tornam-se menos atrativas, uma vez que os juros associados aos produtos de poupança (como os depósitos a prazo) tendem a diminuir.