Há 13 anos que os preços não estavam tão elevados na Europa. Só em Outubro, a inflação avançou para 4,1% na zona Euro. Apesar de o Banco Central Europeu já ter afirmado diversas vezes que o quadro é transitório, espera-se que continue a aumentar até ao final do ano. As culpas estão a ser postas na escalada dos preços da energia que, sozinhos, representam metade do valor da subida.
E se a crise energética tem acentuado a era inflacionária que vivemos, não está sozinha. Os estímulos orçamentais para ajudar as economias a recuperar da pandemia, as injeções de dinheiro e o boom de consumo pós-pandemia, que a oferta não tem conseguido acompanhar, pintaram o quadro perfeito para o seu apogeu.
Portugal continua a estar na ponta da Europa, até no que toca à inflação, e regista uma das taxas mais baixas da zona Euro. Ainda assim, está em crescimento e acelerou para 1,8%, em Outubro. Tem impacto na vida quotidiana dos consumidores, afetando os seus rendimentos e poupanças.
Numa altura em que os preços estão em escalada um pouco por todo o lado, é importante que saiba o que é a inflação. Só assim pode estar protegido de forma adequada.
O que é a inflação?
Numa economia de mercado, é normal que os preços oscilem. Assim o dita a lei da oferta e da procura. Quando se fala de inflação, no entanto, não é disso que se trata. Ela refere-se ao aumento generalizado dos preços de bens e serviços e não de apenas alguns produtos.
O que a inflação faz é reduzir o valor da moeda à medida que evolui. Tem impacto no poder de compra dos consumidores porque, na prática, significa que com o mesmo dinheiro, se conseguem adquirir menos produtos.
Quais as razões da inflação?
Este é um fenómeno que pode ocorrer por várias razões. Uma delas é o excesso de dinheiro em circulação: se a oferta de dinheiro aumenta, cada unidade vale menos. Do mesmo modo, quando se imprime mais dinheiro para injetar na economia, o que está em circulação perde valor.
Também a existência de uma procura superior à oferta faz aumentar os preços no mercado. Se há muitas pessoas a querer adquirir um produto, o valor dispara sempre que a oferta não acompanha a procura. Finalmente, o aumento de custos de produção gera inflação, uma vez que obriga as empresas a subir os preços dos produtos, para conseguir gerar lucro.
Como é calculada a taxa de inflação?
No cálculo da inflação, é utilizado um cabaz de bens e serviços de diversas categorias, como referência. Este é composto por artigos de consumo diário, como produtos alimentares, livros e revistas, bens duradouros (roupa, computadores ou eletrodomésticos) e serviços (cabeleireiros e seguros, entre outros).
Como todas as pessoas têm hábitos de consumo diferentes, a inflação é calculada em função da média de despesa de consumo de todas as famílias. Nesse sentido, são tidos em conta todos os bens e serviços consumidos. Cada um dos componentes do cabaz tem um peso diferente e os produtos onde se gasta mais têm uma ponderação maior. A eletricidade, por exemplo, pesa mais do que o açúcar.
O que está em causa neste cálculo?
O que se calcula na taxa de inflação é a evolução dos preços dos bens e serviços à disposição dos consumidores, na economia. Fala-se em taxa homóloga quando se compara o preço de um cabaz num determinado mês com o do mesmo mês no ano anterior e em taxa mensal quando a comparação incide sobre o cabaz do mês anterior.
Quem faz o cálculo da inflação?
A inflação é calculada a dois níveis. O cálculo interno é feito pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) e o da zona Euro é da responsabilidade do Eurostat.
Em Portugal, é o Índice de Preços no Consumidor (IPC) o indicador que mede a evolução dos preços. Relativamente à zona Euro, sendo que todos os países seguem a mesma metodologia no que toca ao cálculo da inflação, serve de referência o Índice Harmonizado de Preços do Consumidor (IHPC). Ambos são atualizados regularmente e estão ao acesso de todos os consumidores.
De que modo é que ela me afeta?
A inflação tem impacto direto nos preços e na vida dos consumidores, através da diminuição do poder de compra dos mesmos. Podemos então perceber que, perante o aumento generalizado de bens e serviços, é necessário que também os rendimentos e o retorno dos investimentos evoluam. A taxa de inflação deve servir de referência para as alterações.
Assim, ter dinheiro parado na conta pode não ser uma boa ideia. Guardar grandes valores é vê-los desvalorizar, ao longo do tempo, à boleia da inflação.
No que toca a poupanças, valem a pena aplicações com remuneração acima da inflação, que garantem que os montantes poupados crescem e não perdem valor. Se os rendimentos obtidos forem inferiores, a quantia aplicada inicialmente está a perder valor já que os ganhos não acompanham a subida de preços. O mesmo vale para os salários, que devem sofrer uma alteração que esteja, pelo menos, ao nível da inflação.
Oiça aqui o episódio do podcast MoneyBar em que a fundadora do MoneyLab fala sobre este “agente corrosivo do dinheiro”.