Quando o tema é literacia financeira, os portugueses estão no segundo lugar a contar do fim entre todos os Estados-Membros da União Europeia (UE). Os dados constam de um estudo do grupo de reflexão Bruegel publicado hoje, baseado num Eurobarómetro sobre literacia financeira feito para a Comissão Europeia, de 2023.
Perante cinco perguntas relacionadas com finanças, apenas 42% dos portugueses inquiridos foram capazes de responder corretamente a pelo menos três questões. A média europeia dos 27 Estados-Membros é de 52%.
No geral, “apenas uma em cada duas pessoas na UE tem conhecimento financeiro”, refere o estudo da Bruegel, que destaca que este resultado “representa um nível baixo de literacia financeira e um obstáculo a que os indivíduos invistam em mercados financeiros”.
Os dados do Eurobarómetro, analisados pela Bruegel, mostram também disparidades de género na literacia financeira: mais homens (+18%) do que mulheres responderam corretamente a pelo menos três das cinco perguntas, na média europeia.
Por Estado-Membro, na liderança europeia em matéria de literacia financeira estão a Finlândia (73%), Estónia (67%) e Dinamarca (66%). Os lugares do fim são ocupados pela Roménia (36%), Portugal (42%) e Grécia (43%).
As cinco perguntas que serviram de base ao estudo estavam relacionadas com diversos temas financeiros: inflação, juros compostos, relação entre taxas de juro e preços das obrigações, risco e rendimento e diversificação dos juros.
A questão sobre inflação foi a mais respondida corretamente, no contexto dos 27 Estados-Membros. Ainda assim, 35% dos europeus não percebem que a inflação diminui o seu poder de compra. “Com a inflação a estar invulgarmente elevada desde 2022, estes resultados apontam a dificuldade de muitas famílias em adaptar o comportamento de consumo e poupança perante estes aumentos de preços”, refere o estudo da Bruegel.
Apenas um em cada cinco europeus conseguiu responder corretamente à questão sobre a relação entre taxas de juro e preços das obrigações.
A relação entre literacia financeira, inclusão e reforma
A partir dos dados do Eurobarómetro, o estudo da Bruegel analisa a relação entre literacia financeira e o sucesso financeiro. “Os países da UE com maiores níveis de conhecimento financeiro têm maiores percentagens de adultos a poupar com e a pedir empréstimos de instituições financeiras. Por isso, maior conhecimento financeiro está ligado a maior inclusão financeira”, indica o estudo.
O grupo de reflexão adianta ainda que os resultados do Eurobarómetro confirmam as conclusões de muitos outros estudos de que “a resiliência e confiança de ter poupanças suficientes para viver confortavelmente ao longo dos anos da reforma aumenta com maior conhecimento financeiro”.
Além da preparação da reforma, há também relação entre a literacia financeira e a capacidade de enfrentar imprevistos. “Aqueles com maior conhecimento financeiro estão menos frágeis financeiramente na medida de que ainda conseguem cobrir as suas despesas em caso de uma perda de rendimento repentina”, pode ler-se no estudo.
Recomendações para o futuro
Perante os resultados do Eurobarómetro e as fragilidades no conhecimento financeiro na UE, o estudo da Bruegel deixa algumas recomendações para que seja possível alterar o panorama da literacia financeira na Europa:
- Acelerar os esforços para promover a literacia financeira, sobretudo para as mulheres e para os jovens.
- Promover a literacia financeira nas escolas, da educação primária ao ensino superior, mas também como tema de formação contínua ao longo da vida;
- A literacia financeira deve ser considerada um complemento da regulação financeira;
- Continuar os esforços de monitorização regular dos níveis de literacia financeira dos europeus (depois do Eurobarómetro de 2023 ser o primeiro inquérito com dados comparáveis para todos os Estado-Membros), como forma de identificar as melhores práticas e promover a troca de ideias e experiências;
- Todas as estratégias nacionais de literacia financeira na UE devem prosseguir (e com apoio financeiro adequado). O seu progresso deve ser monitorizado e deve existir um esforço de identificação das melhores práticas;
- Os esforços de melhoria da literacia financeira na UE devem ter em conta a digitalização – e que novos conhecimentos podem ser necessários para compreender diferentes produtos e serviços financeiros digitais.
O estudo da Bruegel “O estado do conhecimento financeiro na União Europeia” foi publicado a 23 de fevereiro de 2024 e é da autoria de Maria Demertzis, Luca Léry Moffat, Annamaria Lusardi e Juan Mejino Lopez. O estudo foi pedido pela presidência belga do Conselho da União Europeia.