Menor inflação, menores taxas de juro. O Banco Central Europeu (BCE) anunciou hoje um novo corte das taxas de juro diretoras da Zona Euro, em 25 pontos base (0,25 pontos percentuais). A decisão já era esperada pelos analistas e surge numa altura em que a inflação da Zona Euro está abaixo das metas de longo prazo do BCE.
Na base da decisão do Conselho de Governadores do BCE está a avaliação atualizada “das perspetivas de inflação, da dinâmica da inflação subjacente e da força da transmissão da política monetária”, segundo o comunicado oficial divulgado pelo Banco Central.
Desta forma, e com efeitos a partir de 11 de junho de 2025, as taxas de juro da Zona Euro reduzem 25 pontos base:
- Taxa de facilidade permanente de depósitos: passa de 2,25% para 2,00%.
- Taxa de juro das operações principais de refinanciamento: passa de 2,40% para 2,15%.
- Taxa de facilidade permanente de cedência da liquidez: passa de 2,65% para 2,40%.
O novo corte acaba por marcar um ano de ciclo de descidas graduais das taxas. Em junho do ano passado, o Banco Central decidiu o primeiro corte nas taxas diretoras, depois de um longo período restritivo (2022-2024), em que os juros subiram e foram mantidos elevados para contrariar a forte inflação da Zona Euro. Antes desta primeira redução, a taxa de facilidade permanente de depósitos estava em 4%, enquanto as taxas de cedência da liquidez e das operações principais de refinanciamento ultrapassavam este patamar (4,75% e 4,50% respetivamente).
Desde então, a redução das taxas tem sido constante. Este é o 7.º corte consecutivo – e o 8.º desde junho de 2024.
O BCE não se compromete, no entanto, com futuros cortes e uma trajetória pré-definida de decisões para os próximos meses. Este tem sido o posicionamento habitual da instituição.
Inflação abaixo da meta de longo prazo
A decisão de hoje surge na semana em que foram também conhecidas as estimativas rápidas da inflação homóloga da Zona Euro para o mês de maio: 1,9%, um valor abaixo da meta de longo prazo de 2% apontada pelo BCE.
As projeções atualizadas partilhadas pelo Banco Central dão conta de que “a inflação subjacente situar-se-á, em média, em 2,0% em 2025, 1,6% em 2026 e 2,0% em 2027”. Isto reflete uma revisão em baixa de 0,3 pontos percentuais para o ano corrente e 2026, motivada por “pressupostos mais baixos para os preços dos produtos energéticos e um euro mais forte”.
Perspetivas económicas e as tarifas da incerteza
Os indicadores da inflação pressionam uma decisão de descida de taxas de juro de forma a estimular a economia (e evitar o risco de uma maior queda dos preços). Mas há outros fatores em jogo, como as perspetivas económicas para a Zona Euro e a incerteza nas políticas comerciais globais (derivada das políticas tarifárias dos Estados Unidos).
O comunicado do BCE aborda o impacto deste contexto global incerto: “embora se espere que a incerteza em torno das políticas comerciais pese sobre o investimento empresarial e as exportações, sobretudo no curto prazo, o aumento do investimento público em defesa e infraestruturas apoiará cada vez mais o crescimento no médio prazo [na Zona Euro]”.
O BCE espera um aumento dos rendimentos reais e um mercado de trabalho “mais robusto” como estímulo à economia e ao consumo das famílias na Europa. “A par das condições de financiamento mais favoráveis, tal deverá tornar a economia [da Zona Euro] mais resiliente a choques mundiais”.
As projeções para o crescimento do PIB real são de 0,9% em 2025, 1,1% em 2026 e 1,3% em 2027.
No entanto, a evolução real da inflação e do crescimento do PIB estão bastante dependentes do desenrolar da guerra tarifária global.
De acordo com os cenários avaliados por especialistas do Eurosistema, “uma nova intensificação das tensões comerciais nos próximos meses levaria a que o crescimento e a inflação se situassem abaixo das projeções de referência”. Em sentido contrário, “se as tensões comerciais fossem resolvidas com resultados benignos, o crescimento e, em menor grau, a inflação apresentar-se-iam acima das projeções de referência”, refere ainda a instituição.