É o segundo corte das taxas de juro diretoras na Zona Euro, desde junho, pelo Banco Central Europeu (BCE), num alívio à política monetária restritiva que tem estado em vigor desde 2022. Mas próximas decisões são ainda incertas.
À saída da reunião de hoje, 12 de setembro, do Conselho de Governadores do BCE, a decisão sobre as taxas de juro corresponde às expetativas do mercado e dos analistas: as taxas de juro diretoras da Zona Euro vão mesmo ter nova descida.
“Tendo em conta a avaliação atualizada realizada pelo Conselho do BCE quanto às perspetivas de inflação, à dinâmica da inflação subjacente e à força da transmissão da política monetária, é agora apropriado dar mais um passo no sentido de moderar o grau de restritividade da política monetária”, pode ler-se no comunicado divulgado pela instituição europeia.
Ao contrário do primeiro corte histórico de junho de 2024, desta vez as taxas diretoras são reduzidas a diferentes ritmos:
- A taxa de facilidade permanente de depósito tem o corte mais reduzido, de 25 pontos base (0,25 pontos percentuais): passa de 3,75% para 3,50%.
- A taxa de juro das operações principais de refinanciamento reduz 60 pontos base (0,60 pontos percentuais): de 4,25% para 3,65%.
- A taxa de facilidade permanente de cedência de liquidez também reduz 60 pontos base (0,60 pontos percentuais): de 4,50% para 3,90%.
A redução diferenciada entre taxas reflete a estratégia técnica do BCE, anunciada em março de 2024, de manter a diferença entre a taxa de refinanciamento e a taxa de depósitos fixada em 15 pontos base. Já o diferencial entre a taxa de refinanciamento e a de cedência de liquidez permanece inalterado em 25 pontos base.
As mudanças nas taxas diretoras entram em efeito a partir de 18 de setembro.
Uma decisão esperada
Depois de um primeiro corte nas taxas de juro decidido em junho de 2024 (seguido de uma pausa intercalar em julho), a decisão de um segundo corte na reunião de hoje era já expetável.
Na base da decisão (e das expetativas antes da reunião) está a descida da inflação, mas também o desempenho da economia da Zona Euro.
Os indicadores continuam a reforçar a tendência de descida da inflação: o Índice de Preços no Consumidor da Zona Euro foi de 2,2% em agosto de 2024, ou seja, o patamar mais baixo dos últimos três anos (o pico foi em outubro de 2022, quando a taxa de inflação chegou a 10,6%).
Ainda assim, a inflação subjacente (sem as componentes dos produtos alimentares e energia) está mais resistente a descidas, sobretudo pelo aumento dos preços dos serviços.
De acordo com o comunicado do BCE, “os especialistas projetam que a inflação global se situe, em média, em 2,5% em 2024, 2,2% em 2025 e 1,9% em 2026, em consonância com o avançado nas projeções de junho”. Em paralelo, a instituição refere que “a inflação interna mantém-se alta, porque os salários continuam a aumentar a um ritmo elevado”, “as condições de financiamento permanecem restritivas e a atividade económica ainda é moderada, refletindo a fraqueza do consumo privado e do investimento”.
As projeções dos especialistas, citadas no comunicado, dão conta que “a economia registe uma taxa de crescimento de 0,8% em 2024, 1,3% em 2025 e 1,5% em 2026”.
Apesar da redução da inflação, as taxas de juro continuam em patamares históricos elevados e a decisão do BCE não implica uma guinada abrupta na política restritiva do Banco Central. É mais um atenuar suave do que uma mudança de estratégia.
O segundo corte europeu chega antes de qualquer redução das taxas diretoras dos Estados Unidos. Ainda assim, o presidente da Reserva Federal dos Estados Unidos (Fed), Jerome Powell, já avisou que chegou o momento de reduzir os juros e, provavelmente, o primeiro corte deve ser feito na reunião da Fed deste mês (17 e 18 de setembro).
Próximas decisões
Depois do corte de hoje, qual será o calendário de decisões futuras nas taxas diretoras?
Tal como tem vindo a ser habitual em reuniões passadas, o BCE opta por não se comprometer com um calendário específico de cortes e mantém uma abordagem dependente da evolução dos dados: as “decisões [do BCE] sobre as taxas de juro basear-se-ão na avaliação das perspetivas de inflação, à luz dos dados económicos e financeiros que forem sendo disponibilizados, da dinâmica da inflação subjacente e da robustez da transmissão da política monetária”.
Ainda assim, a instituição presidida por Christine Lagarde lança o aviso: “o Conselho do BCE está determinado a assegurar o retorno atempado da inflação ao seu objetivo de médio prazo de 2%. Para o efeito, manterá as taxas de juro diretoras suficientemente restritivas enquanto for necessário”.
Taxas Euribor continuam a descer
Dada a influência das taxas diretoras nas taxas Euribor, este corte é também um sinal positivo para que as prestações do crédito à habitação (taxa variável) possam ser atenuadas.
Os dados atuais mostram que as taxas Euribor refletem esta tendência de redução gradual do BCE, com um alívio nas revisões das prestações do crédito à habitação. A Euribor a 12 meses desceu dos 3% esta semana e está em mínimos de mais de ano e meio. Também a Euribor a seis meses está num valor mínimo desde março de 2023, em pouco mais de 3,26%.
As Euribor representam a média das taxas às quais um conjunto de bancos da Zona Euro empresta dinheiro entre si, no mercado interbancário. Ao descer a taxa de juro diretora, o BCE diminui a taxa de juro com que empresta dinheiro aos bancos comerciais, gerando um efeito dominó em todas as outras taxas de juro.