O Banco Central Europeu (BCE) avançou esta quinta-feira com a decisão de reduzir as taxas diretoras da Zona Euro. Esta redução é o primeiro sinal de alívio na política restritiva do BCE iniciada em julho de 2022. Mas qual será o impacto? E esperam-se novas reduções?
A reunião do Conselho de Governadores do BCE, liderado por Christine Lagarde, ditou a descida das taxas diretoras da Zona Euro em 25 pontos base (0,25 pontos percentuais). A taxa de juro das operações principais de refinanciamento passa a estar em 4,25%, a taxa de facilidade permanente de cedência de liquidez em 4,50% e a taxa de facilidade permanente de depósito em 3,75%, com efeitos a partir de 12 de junho de 2024.
“A inflação subjacente também abrandou, reforçando os sinais de enfraquecimento das pressões sobre os preços, tendo as expectativas de inflação baixado em todos os horizontes. A política monetária manteve as condições de financiamento restritivas. Ao atenuar a procura e manter as expectativas de inflação bem ancoradas, tal deu um contributo importante para a descida da inflação”, pode ler-se no comunicado do BCE.
Esta é a primeira vez que o BCE alivia a política restritiva que tem seguido desde 2022. Em julho desse ano, o Banco Central tinha optado por uma subida histórica das taxas diretoras para fazer frente à acentuada inflação que se fazia sentir na Zona Euro. Seguiu-se um ciclo consecutivo de 10 subidas, até setembro de 2023. Desde outubro de 2023, as taxas vinham a manter-se inalteradas, em valores restritivos.
Os cortes de hoje eram já expetáveis, depois de vários dos responsáveis políticos do BCE terem dado sinais positivos nas últimas semanas.
Em termos históricos, é a primeira descida da taxa das operações principais de refinanciamento e da taxa da facilidade permanente de cedência de liquidez desde março de 2016. Para a taxa de facilidade permanente de depósito, trata-se da primeira redução desde setembro de 2019.
Qual o impacto esperado da redução das taxas?
Apesar de já esperada, a redução das taxas deverá ser recebida de forma positiva nos mercados. A expetativa é a de valorização dos títulos europeus, de forma geral.
O alívio nas taxas de juro diretoras permite que os bancos da Zona Euro possam conseguir empréstimos mais baratos do Banco Central. E, consequentemente, disponibilizar aos clientes condições mais favoráveis nos produtos de crédito.
Dada a influência das taxas diretoras nas Euribor, este é também um sinal positivo para que as prestações do crédito à habitação (taxa variável) possam ser atenuadas.
Ainda assim, de destacar que este é apenas um alívio nas taxas diretoras, que no geral continuam num patamar bastante elevado. Ou seja, apesar de uma redução expetável, as prestações do crédito para as famílias continuarão bastante acima da realidade pré-2022.
Em sentido inverso, as reduções das taxas diretoras costumam ter como efeito uma diminuição nas taxas de condições dos depósitos e noutros produtos de poupança.
E no futuro? Preveem-se novos cortes nos próximos meses?
O BCE foi bastante cauteloso na antecipação dos próximos meses. Como tem sido habitual, a instituição refere, no comunicado, que as próximas decisões dependem diretamente da evolução dos dados económicos e financeiros.
“O Conselho do BCE não se compromete previamente com uma trajetória de taxas específica”, reforça a instituição, em comunicado, acrescentando que “não obstante os progressos realizados nos últimos trimestres, as pressões internas sobre os preços permanecem fortes, dado que o crescimento dos salários é elevado, sendo provável que a inflação se mantenha acima do objetivo durante grande parte do próximo ano”.
Espera-se que a descida dos juros decorra de forma gradual, a contrastar com as subidas mais agressivas entre 2022 e 2023, até porque os dados da inflação não dão sinais tranquilos ao BCE. A inflação da Zona Euro aumentou em maio para 2,6%, contra os 2,4% registados em abril Portugal foi o país com maior aceleração da taxa de inflação.
De realçar que a abordagem restritiva do BCE nas taxas diretoras foi seguida para travar a escalada da inflação sentida desde 2022. A meta ideal do BCE é uma inflação de 2%.
Qual é o cenário nos Estados Unidos?
A Reserva Federal norte-americana (Fed) tem seguido uma estratégia restritiva semelhante, embora o Banco Central Europeu tenha dado o primeiro passo no alívio das taxas.
A reunião da Fed irá realizar-se na próxima semana, mas não é esperado que os Estados Unidos vejam uma redução das taxas diretoras já este mês, muito devido à pressão da inflação na economia norte-americana. A FedWatch Tool do grupo CME apresenta uma probabilidade de 99,7% de que as taxas de juro se mantenham inalteradas em junho. Setembro parece um momento mais provável para um primeiro corte da Fed.
Para que servem as taxas de juro diretoras?
As taxas de juro diretoras são taxas que o BCE cobra aos bancos pelos empréstimos concedidos ou que paga pelos depósitos dos bancos.
A taxa relativa às operações de refinanciamento define os juros cobrados aos bancos da Zona Euro para contrair empréstimos junto do BCE pelo prazo de uma semana. A taxa de facilidade permanente de depósitos determina os juros que os bancos recebem pelos depósitos junto do BCE. A taxa de cedência de liquidez determina os juros a pagar pelos bancos em caso de empréstimo junto do BCE, mas pelo prazo de um dia (overnight).
Os juros de referência do BCE têm impacto nas taxas de juro dos empréstimos e dos depósitos praticados pelos bancos europeus – e, no final da cadeia, na prestação do crédito à habitação que as famílias pagam ao seu banco.
Utilize o Simulador de Crédito à Habitação do MoneyLab, uma ferramenta gratuita que o ajuda a calcular o impacto da subida das taxas na prestação mensal.