Ainda não é desta que as taxas de juro diretoras na Zona Euro vão recuar. No rescaldo da reunião do Conselho de Governadores do Banco Central Europeu (BCE) de hoje, 11 de abril, a decisão é de continuar a manter inalteradas as taxas de juro nos atuais níveis restritivos. Mercados antecipam primeiros cortes apenas em junho – e isto se os Estados Unidos não levarem a maior compasso de espera.
Tal como o esperado pelo mercado, o BCE decidiu hoje continuar a manter as taxas de juro diretoras. Esta é a quinta decisão consecutiva do BCE pela manutenção, desde outubro de 2023, depois um ciclo de subidas fortes das taxas que marcou 2022 e 2023.
“As condições de financiamento permanecem restritivas e os anteriores aumentos das taxas de juro continuam a pesar sobre a procura, o que está a ajudar a reduzir a inflação”, refere o comunicado do BCE, apresentado por Christine Lagarde, presidente da instituição, em conferência de imprensa, destacando ainda que “as pressões internas sobre os preços são fortes e estão a manter elevada a inflação dos preços dos serviços”.
Isto significa que os juros se mantêm tal qual estabelecido em outubro de 2023: a taxa das operações principais de refinanciamento em 4,50%, a taxa de facilidade permanente de depósito em 4,00% e a taxa de facilidade permanente de cedência de liquidez em 4,75%.
Descidas à vista?
No início do ano, Christine Lagarde assumia como provável que a tão aguardada descida das taxas de juro (com impacto para mercados e para as famílias da Zona Euro) acontecesse no verão. Antecipações mais atuais do mercado de futuros apontam uma primeira descida para junho.
A verdade é que o comunicado de hoje do BCE é parco em perspetivas sobre futuras descidas: “[o Conselho do BCE] não se compromete previamente com uma trajetória de taxas específica”.
O Banco Central afirma ainda que “se a avaliação atualizada das perspetivas de inflação, da dinâmica da inflação subjacente e da força da transmissão da política monetária reforçasse a confiança do Conselho do BCE de que a inflação está a convergir para o objetivo de forma sustentada, seria apropriado reduzir o atual nível de restritividade da política monetária”.
Tudo dependerá, assim, da evolução dos indicadores, sobretudo da inflação, mas também em termos do controlo na evolução dos salários e preços das matérias-primas. As decisões do BCE têm sido sempre baseadas nos dados agregados da Zona Euro – e o comunicado de hoje reforça que o mesmo se aplicará em futuras decisões.
De relembrar que os níveis restritivos das taxas de juro – e as subidas consecutivas que assistimos em 2022 e 2023 – resultam de uma estratégia para combater a elevada inflação sentida desde 2022. O objetivo a médio prazo do BCE é que a inflação estabilize em 2%.
Os indicadores mais recentes da inflação na Zona Euro, relativos a março, mostram uma descida para 2,4%, um mínimo desde julho de 2021. Na inflação subjacente (sem incluir alimentos e energia) está em 2,9%. A rota de descida é favorável a uma decisão de corte dos juros pelo BCE – com os mercados a antecipar uma primeira redução em junho.
Em Portugal, a taxa de inflação homóloga fixou-se em 2,3% em março (dados do Instituto Nacional de Estatística), numa subida de 0,2 pontos percentuais em relação a fevereiro.
Atenção aos sinais norte-americanos
Ainda assim, e para efeitos de decisões nos juros europeus, há também que contar com o que acontece do outro lado do Atlântico. A subida da inflação dos Estados Unidos acima do esperado em março (3,5%), a somar ao contexto eleitoral que se vive este ano no país, parece apontar para um refreamento no alívio dos juros pela Reserva Federal norte-americana (com um maior compasso de espera até serem feitas as primeiras descidas).
Perante os dados da inflação, Joe Biden, presidente dos EUA, fez questão de ressalvar quarta-feira, 10 de abril, que mantém as previsões de que “antes do fim deste ano, haverá um corte dos juros”.
A questão é que possíveis atrasos nos cortes por parte da Reserva Federal para o segundo semestre de 2024 podem ter um efeito de contágio na Europa, levando o BCE a atrasar também o alívio nas taxas – independentemente de o trajeto da inflação estar a ser mais favorável no bloco europeu do que nos Estados Unidos.
Para que servem as taxas de juro diretoras da zona Euro?
As taxas de juro diretoras são taxas que o BCE cobra aos bancos pelos empréstimos concedidos ou que paga pelos depósitos dos bancos:
- Taxa relativa às operações de refinanciamento: define os juros cobrados aos bancos da Zona Euro para contrair empréstimos junto do BCE pelo prazo de uma semana.
- Taxa de facilidade permanente de depósitos: determina os juros que os bancos recebem pelos depósitos junto do BCE.
- Taxa de cedência de liquidez: determina os juros a pagar pelos bancos em caso de empréstimo junto do BCE, mas pelo prazo de um dia (overnight).
Os juros de referência do BCE têm impacto nas taxas de juro dos empréstimos e dos depósitos praticados pelos bancos europeus e, por isso, também na prestação do crédito à habitação que as famílias pagam ao seu banco.
Utilize o Simulador de Crédito à Habitação do MoneyLab, uma ferramenta gratuita que o ajuda a calcular o impacto da subida das taxas na prestação mensal.