Christine Lagarde já tinha deixado o aviso no Fórum do Banco Central Europeu (BCE), em junho, e a reunião do Conselho de Governadores do BCE de hoje, dia 27 de julho, confirmou: as taxas de juro voltam mesmo a subir, continuando a estratégia do banco central de combate à inflação. Desta feita, a subida é de 0,25 pontos percentuais (25 pontos base) para as três taxas diretoras – e sim, é a nona subida consecutiva. Saiba mais sobre o que motivou esta decisão do BCE e qual o impacto deste aumento na sua carteira.
No rescaldo da decisão de subida de 25 pontos base das três taxas diretoras, a presidente do BCE, Christine Lagarde, confirma a continuidade de uma postura restritiva do banco central em relação às taxas de juros diretoras como forma de combater a inflação.
“Estamos determinados a garantir que a inflação regresse à nossa meta de médio prazo de 2%”, reforçou a presidente do BCE em conferência de imprensa, acrescentando que “as últimas subidas de juros continuam a ser transmitidas vigorosamente: as condições de financiamento voltaram a ficar mais apertadas e estão a amortecer cada vez mais a procura, o que é um fator importante para trazer a inflação de volta à meta”.
Dentro das taxas diretoras, a taxa das operações principais de refinanciamento passa a estar nos 4,25%. Já a taxa de juro aplicável à facilidade permanente de depósito está agora fixada em 3,75%, enquanto a taxa da facilidade permanente de cedência de liquidez sobe para 4,50%. Com o aumento de 25 pontos base, com efeito a partir de 2 de agosto, o BCE mantém o ritmo de subida em relação à última reunião de junho.
O BCE decidiu também fixar a remuneração das reservas mínimas obrigatórias em 0%.
Até quando podem continuar a subir as taxas?
Christine Lagarde não fez previsões concretas quanto às decisões futuras do BCE sobre as taxas de juro diretoras, mas deixou uma garantia: não haverá reduções das taxas em setembro. “Mantemos uma mente aberta em relação às decisões de setembro e dos meses seguintes. […] Podemos subir, podemos manter”, acrescentou, reiterando que as decisões têm sempre por base os dados da conjuntura atual.
Apesar da porta aberta a um possível pausa na subida das taxas de juro, o BCE mostra claramente que não está disposto a suavizar a abordagem que tem tido ao longo do último ano. “As nossas decisões futuras vão garantir que as taxas de juro diretoras do BCE sejam estabelecidas em níveis suficientemente restritivos pelo tempo necessário para alcançar o regresso da inflação à nossa meta de médio prazo de 2%”, afirmou, repetidamente, a presidente do BCE.
Impactos no crédito à habitação? Atenção a novas subidas na prestação
Por norma, quando o BCE anuncia oficialmente a subida das taxas diretoras – como hoje – desencadeia-se uma resposta nas instituições financeiras da Zona Euro: o incremento das taxas de juro dos empréstimos (e dos depósitos). A média dos juros praticados pelos bancos traduz-se nas taxas de referência Euribor (a 1 semana, 1 mês, 3 meses, 6 meses e 12 meses).
Desta forma, a subida das taxas diretoras pelo BCE tem impacto direto nas taxas Euribor, levando ao agravamento das prestações de crédito à habitação com taxa variável. Para os contratos com taxa fixa, estas subidas das taxas não afetam o valor da prestação que é paga ao banco.
Olhemos para os últimos meses: foi em julho de 2022 que o BCE anunciou o primeiro aumento, após 11 anos, das taxas de referência, com o objetivo de controlar a inflação crescente na Zona Euro. Nas Euribor, ainda assim, uma tendência significativa de subida foi visível meses antes da decisão oficial do BCE, por antecipação. Desde então, as subidas têm sido contantes – e os aumentos na prestação da casa também.
Como esperado, a procura por crédito tem registado uma queda acentuada e, como referido hoje por Christine Lagarde, “condições de financiamento mais apertadas estão também a tornar a habitação menos acessível e menos atraente como investimento.”
E quanto à subida das taxas de juro decidida hoje pelo BCE? Espera-se, mais uma vez, uma subida das Euribor na sequência do anúncio do banco central, pelo que deve preparar a sua carteira para a possibilidade de novos aumentos nas prestações que paga ao banco pelos seus créditos (não só do crédito à habitação).
O impacto desta decisão de hoje na sua prestação não será imediato. Tudo depende da resposta das Euribor à decisão do BCE e da maturidade associada ao seu empréstimo, que dita a frequência da revisão da prestação. A Euribor a 3 meses, por exemplo, significa que o valor da prestação que terá de pagar é revisto de três em três meses. A revisão tem sempre em conta a média das taxas de juro que vigoraram no mês anterior.
Imaginemos que tem um crédito com Euribor a 6 meses, cuja última revisão foi feita este mês de julho. Nesse caso, o banco teve em conta a média dos valores de junho – e a prestação definida vai vigorar nos próximos seis meses. Só então, nessa próxima revisão da prestação, poderá sentir o impacto desta – e possíveis outras – decisões do BCE.
[Simulador] Quanto já aumentaram as prestações da casa?
A média mensal de junho das Euribor (que serve de referência às revisões das prestações ocorridas este mês) mostra-nos que a taxa a 3 meses está nos 3,54%, a 6 meses está nos 3,83% e a Euribor a 12 meses chega já aos 4%.
Imaginemos, por exemplo, que tem um empréstimo com spread de 0.90% e Euribor a 6 meses. Como evoluiu a prestação ao longo deste ano? E como poderá evoluir até um patamar de 4% da Euribor a 6 meses?
Empréstimo em dívida de 100 mil euros, a 27 anos
- Prestação com Euribor a 0,47% (média mensal de julho 2022): 369,41 euros
- Prestação com Euribor a 3,83% (média mensal de junho 2023): 547,11 euros
- Cenário com Euribor a 4%: 557,11 euros
Empréstimo em dívida de 150 mil euros, a 30 anos
- Prestação com Euribor a 0,47% (média mensal de julho 2022): 508,38 euros
- Prestação com Euribor a 3,83% (média mensal de junho 2023): 780,66 euros
- Cenário com Euribor a 4%: 796,09 euros
Tem condições de crédito diferentes? Utilize o Simulador de Crédito à Habitação do MoneyLab, uma ferramenta gratuita que o ajuda a calcular o impacto da subida das taxas na prestação mensal.
Porque continua o BCE a subir as taxas de juro?
O aumento das taxas de juro diretoras faz parte da estratégia do BCE para combater a inflação. A lógica é de que, com empréstimos mais caros, há menos dinheiro para consumir, o que baixa a procura e faz com que a escalada de preços abrande.
Apesar da desaceleração da inflação na Zona Euro (5.5% em junho, depois de 6,1% em maio), os valores continuam muito acima dos objetivos do banco central. A meta do BCE é chegar ao patamar ideal de 2% de inflação.
As declarações de Christine Lagarde reforçam esta ideia: “as boas notícias é que a inflação está a diminuir. Mas é o suficiente? É bom como resultado? Não exatamente. Temos uma meta e queremos lá chegar”. O banco central mantém a expetativa de que “a inflação vai continuar a diminuir ainda mais ao longo do resto do ano, mas permanecerá acima da meta por um período alargado”.