Em terreno negativo, o desempenho de hoje da Bolsa de Lisboa não terá sido afetado pelos resultados eleitorais de 10 de março. O PSI segue a tendência das bolsas europeias.
Na manhã seguinte a uma noite eleitoral intensa, com apuramento dos resultados das legislativas portuguesas, a Bolsa de Lisboa começou a negociação no vermelho, com uma descida do PSI de 0,27%. Desde então, recuperou ligeiramente, mas continua no negativo (-0,12%, às 14h, em relação ao fecho de sexta-feira).
O desempenho da Bolsa de Lisboa segue em linha com a tendência das bolsas europeias, também em terreno negativo, o que, segundo os analistas, afasta a hipótese de algum tipo de impacto local gerado pelos resultados eleitorais. No início do dia, registavam-se descidas do Stoxx (-0,4%), do DAX de Frankfurt (-0,6%), do CAC de Paris (-0,4%) e do FTSE de Londres (-0,2%).
“A reação do mercado às eleições portuguesas foi nula”, comenta Filipe Garcia, presidente e economista da IMF – Informação de Mercados Financeiros, explicando que “o que está a acontecer em termos da Bolsa portuguesa, na minha opinião, está absolutamente ligado à evolução dos mercados internacionais”. Ao MoneyLab, o analista reforça que “se olharmos para o resto das bolsas europeias, vemos que estão a descer na mesma magnitude”.
O presidente da IMF adianta ainda que, do lado do mercado obrigacionista, a tendência é semelhante. “O comportamento da dívida portuguesa está muitíssimo em linha com o resto da Europa, que é um comportamento absolutamente estático. Não há alterações nos preços da generalidade dos mercados europeus – e em Portugal também não”. É, de resto, um comportamento de expetativa, na véspera da divulgação dos dados da inflação nos Estados Unidos, nesta terça-feira.
No geral, seria de esperar esta indiferença do mercado perante as eleições nacionais. Segundo Filipe Garcia, “para a Bolsa mexer por causa de eleições, teria de acontecer uma de duas coisas: ou esperar uma boa probabilidade de políticas que favorecessem ou prejudicassem estas empresas em particular – o que não me parece que seja o caso, até porque não há grande margem para o fazer; ou que se alterassem muito as perspetivas sobre o crescimento económico nos próximos tempos – o que também não me parece”.
“Instabilidade política como um risco significativo”
Vítor Madeira, analista da corretora XTB, corrobora a ideia de que as Legislativas não impactam o dia pós-eleitoral do mercado. “Até ao momento, as eleições parecem ter sido um evento de pouca relevância para o mercado nacional, seguindo o padrão dos últimos anos eleitorais, o que estava dentro das expetativas”, explica o analista, questionado pelo MoneyLab.
Na análise, Vítor Madeira também realça que a queda na bolsa nacional é “influenciada pela tendência negativa dos mercados europeus” e que “no lado do mercado obrigacionista, quando analisamos o comportamento do mercado secundário, vemos que também não houve qualquer reação às eleições”.
Ainda assim, o especialista da XTB alerta para a incerteza que pode ser gerada pelos resultados eleitorais de ontem, no que diz respeito à configuração futura do governo. Entre cenários possíveis de maiorias relativas, novas coligações e procura de apoios no hemiciclo, “é imperativo reconhecer a instabilidade política como um risco significativo, capaz de exercer influência substancial sobre a bolsa portuguesa, que nesta altura parece intacta”.
“Embora seja prematuro concretizar tal previsão, nesta fase, devemos ser cautelosos e ter prudência na análise e na consideração futura, pois a incerteza permanece”, conclui Vítor Madeira.
Artigo atualizado com declarações de Vítor Madeira.