O Banco de Portugal apresentou o boletim económico de outubro de 2021. As perspetivas são animadoras para a economia e para o mercado de trabalho. O emprego aumenta 2,6% e a taxa de desemprego diminui face a 2020.
Segundo o comunicado da instituição liderada por Mário Centeno, “em 2021, a economia portuguesa continua o processo de recuperação iniciado no terceiro trimestre de 2020.” No final do ano, o crescimento deverá fixar-se nos 4,8%, aproximando-se o PIB português do verificado no período pré-pandemia. O quadro de recuperação é explicado pela manutenção de políticas económicas expansionistas e pelo sucesso do processo de vacinação, que aumentou a confiança dos agentes económicos.
Boas notícias para o mercado de trabalho
O boletim económico anterior, de junho, perspetivava um aumento da taxa de desemprego para 7,2%, depois de ter chegado aos 7% em 2020. O divulgado hoje fala numa redução da mesma para 6,8%, contrariando a trajetória de crescimento.
Na segunda metade do ano, o emprego continuará a crescer, ainda que a um ritmo menor. Espera-se que aumente 2,6%, mais do que os 1,3% indicados no boletim de junho. Para o final do ano, estima-se ainda que haja um aumento de 8,4% nas horas trabalhadas, a contrastar com a anterior previsão de 5,9%.
Segundo o documento de periodicidade trimestral, a composição do mercado laboral alterou-se e há agora menos pessoas a trabalhar nos setores do turismo, restauração, lazer, comércio, transporte e espétaculos. Verifica-se o contrário nas áreas da construção, das tecnologias de informação, na administração pública, na saúde e no ensino. Há uma queda na taxa de emprego de jovens com idades entre os 16 e os 24 anos, acompanhada pelo aumento da percentagem dos que estão a estudar ou em formação.
As despesas e o aumento do consumo
No primeiro semestre do ano, a queda da atividade e a sua posterior recuperação foram mais acentuadas nos serviços que implicavam contacto social. No que toca às despesas em bens e serviços, as primeiras fixam-se acima do período pré-pandémico, ainda que com algumas perturbações na oferta, e as segundas ficam abaixo daquele. Os comportamentos de precaução dos consumidores, a recuperação lenta do turismo e o recurso ao teletrabalho explicam o resultado.
“O consumo privado cresce 4,3% em 2021” graças ao “crescimento do rendimento disponível”, resultado da “recuperação forte do emprego e do dinamismo dos salários nomimais”, e à “redução gradual da taxa de poupança.” É atenuado apenas pelo aumento da inflação, que se situa nos 0,9%. O crescimento estende-se ao consumo público e as despesas do estado deverão fixar-se nos 5,2% após uma “quase estabilização em 2020.”
Aumento do investimento e das exportações
As perspetivas de recuperação, os fundos europeus e o crédito com garantia do Estado e taxas de juro baixas sustentam o aumento de 5,6% verificado ao nível do investimento.
“As exportações de bens crescem 10,7% em 2021, acompanhando o dinamismo da procura externa dirigida à economia portuguesa. As perturbações nas cadeias de abastecimento continuam a afetar a evolução deste agregado até ao final do ano.” As exportações de serviços, por outro lado, ainda sofrem com o impacto da pandemia e crescem apenas 7%, depois da redução de 37,2% em 2020. No final do ano, deverão estar cerca de 20% abaixo do período pré-pandémico.
A preocupação com o endividamento
Em conferência de imprensa, Mário Centeno falou também sobre os grandes desafios da economia portuguesa. O endividamento público e privado esteve no centro das atenções. O governador do Banco de Portugal afirmou que “no período anterior à crise observámos uma redução muito significativa da dívida privada” e que “no ano de 2019, pela primeira vez em muitos, a dívida privada em percentagem do PIB esteve abaixo da média da área do euro”. A tendência deverá ser retomada e a redução do endividamento público e privado é a prioridade.
Centeno lembrou ainda o final das moratórias, em setembro. “Temos uma visão de que esse desafio vai ser vencido, no sentido de que vamos retomar o pagamento regular do serviço de dívida quer por empresas quer pelas famílias e, com as medidas que entretanto foram implementadas ou outras que possam surgir, vemos a questão com tranquilidade.”
Os desafios para o futuro passam, enfim, pela “redução do endividamento, a utilização eficiente do Plano de Recuperação e Resiliência e a necessária reafectação de recursos físicos e humanos em resposta à transição climática e digital.”