O delicado quadro geopolítico atual, o enfraquecimento da cooperação internacional e a pressão no mercado acionista (comprovada pela recente queda abruta da valorização da gigante Nvidia) dão sinais de que 2025 será um ano de elevada volatilidade. O que marcará este ano para os mercados? E que oportunidades podem surgir? Conheça a opinião dos analistas ouvidos pelo MoneyLab.
A volatilidade e a incerteza dominam as perspetivas dos analistas para 2025, embaladas pelos riscos geopolíticos, o peso da guerra tarifária que se adivinha entre blocos, o fantasma da re-aceleração da inflação e a pressão elevada nos resultados do setor que tem impulsionado as ações para ganhos históricos– a inteligência artificial (IA).
Que perspetivas marcam o ano?
“Em 2025, perspetiva-se que a economia dos EUA esteja ainda resiliente, embora menos dinâmica, com setores como tecnologia, IA e semicondutores a liderar, mas sob mais escrutínio devido a elevadas ‘valuations’”, começa por referir João Queiroz, Head of Trading do Banco Carregosa. O especialista acrescenta que, na Europa, é expetável um “crescimento modesto, com destaque para setores industriais e cíclicos”, enquanto a China continuará a enfrentar “desafios persistentes”, com necessidade de estímulos adicionais.
O contexto aponta para uma diminuição global das rentabilidades que marcaram anos anteriores. “Embora se perspetive um ano de rendibilidades positivas, estas deverão ser inferiores às dos últimos anos, nomeadamente as do mercado acionista norte-americano”, aponta Paulo Monteiro, administrador executivo na Invest Gestão de Activos.
Uma opinião partilhada por Pedro Lino, CEO da Otimize Investment Partners, acrescentando que, mais do que um abrandamento das rentabilidades dos mercados, “em alguns casos a evolução pode ser mesmo negativa”.
“Independentemente da evolução dos mercados em 2025, que perspetivamos globalmente positivo, o fundamental [para os pequenos investidores] é ter consciência da importância de começar a poupar e investir a médio-longo prazo com o objetivo, entre outros, de constituir um complemento às pensões de reforma da Segurança Social, as quais, segundo os últimos estudos oficiais, apontam para uma queda significativa das taxas de substituição (de 69,4%, em 2022, para os 38,5%, em 2050!).”
PAULO MONTEIRO
Invest Gestão de Ativos
“A economia e os mercados de ações das principais economias mundiais estão a entrar em 2025 numa posição de força, mas os riscos de volatilidade – especialmente no que diz respeito à política – são muito mais elevados em comparação com o ano anterior.”
ÂNGELO CUSTÓDIO
Banco Best
Tensões geopolíticas intensificadas
Ao longo do ano, tensões geopolíticas e riscos poderão ameaçam impactar os mercados. Entre os principais riscos apontados pelos analistas está a possível re-aceleração da inflação nos Estados Unidos e Europa (que pode comprometer a política de alívio das taxas de juro por parte dos Bancos Centrais), a manutenção dos conflitos na Ucrânia e Médio Oriente, a possível desaceleração dos resultados das empresas (sobretudo no atual panorama de avaliações das ações em níveis historicamente elevados) e os alertas de abrandamento económico da Europa e China.
“As guerras comerciais e a concorrência geopolítica, particularmente entre os EUA e a China, deverão intensificar-se em 2024. […] Os mercados emergentes estão posicionados para assumir um papel mais importante à medida que a globalização se reconfigura em blocos económicos concorrentes.”
ANDRÉ THEMUDO
BlackRock
Também em destaque está o cenário político nos Estados Unidos. No primeiro ano de um novo mandato, a agenda e as decisões de Donald Trump vão moldar economias e mercados, com consequências globais. Questões como o agravamento das tarifas à importação (que deverá ter respostas de outros blocos), o protecionismo, o foco nas prioridades nacionais (em detrimento da cooperação internacional) e as pressões inflacionistas têm de ser tidas em conta para quem gere carteiras com exposição aos mercados norte-americanos (e não só).
“O início da Administração Trump nos EUA e a esperada concretização de algumas medidas ou políticas que se antecipam deverão ser um importante fator condicionante dos mercados ao longo do ano”, antecipa Paula Gonçalves, economista-chefe do BPI.
“O andamento das principais economias, da inflação e dos mercados de trabalho continuarão a ser indicadores muito importantes e deverão também condicionar o andamento dos mercados financeiros ao longo de 2025 – e, por outro lado, os avanços da IA, as suas consequências e o surgimento potencial de novos players neste segmento serão fator adicional condicionante.”
PAULA GONÇALVES
BPI
Dentro do lote de medidas esperadas pelo novo presidente dos Estados Unidos, a questão tarifária ganha extrema relevância. “A guerra tarifária começou com Trump 1 e deverá intensificar-se com Trump 2. O risco mais importante é a pressão nos preços, concretamente nos EUA que, em consequência, obrigue a Reserva Federal a ter um nível de taxas de juro mais elevado – e esse tipo de política favorece de ativos de baixo risco”, explica António Seladas, diretor da AS Independent Research.
Setores e ativos em destaque
Perante o cenário que se desenha em 2025, o que se pode esperar das diversas classes de ativos e setores? E onde poderão estar as principais oportunidades?
Para os analistas, o setor tecnológico deverá continuar a demonstrar o seu domínio em 2025. “O setor tecnológico continua fresco na memória dos investidores, face aos fortes retornos dos últimos meses, pelo que poderá voltar a merecer a confiança”, comenta Ângelo Custódio, trader do Banco Best.
É preciso cautela, no entanto, com o risco de sobrevalorizações e correções (que poderão ser aproveitadas pelos investidores para reforço de posição), a que está particularmente exposto este setor no mercado acionista. A queda abrupta das ações da Nvidia, no final de janeiro (que levaram a uma perda de 589 mil milhões de dólares em valor de mercado num só dia), veio demonstrar quão elevadas estão as expetativas do mercado face ao potencial da inteligência artificial (sobretudo nos ativos norte-americanos) – e, consequentemente, a pressão por resultados.
Este cenário gera leituras diferentes por parte dos analistas. Vítor Madeira, analista da XTB, por exemplo, defende que o mercado acionista norte-americano “pode continuar a tendência em alta, impulsionado por avanços tecnológicos e possíveis cortes nas taxas de juro”. E, por isso, os investidores devem estar atentos a setores e empresas com “forte crescimento dos lucros e capacidade de alavancar a IA”.
“A pergunta que devemos sempre fazer no início de cada ano é se os múltiplos têm condições para expandir ou não. […] Parece-me que não há condições para haver expansão dos múltiplos em 2025. No entanto, uma política fiscal fortemente expansionista e sem pressão nos preços, parece difícil, poderá ditar uma nova expansão dos múltiplos, para as 25x e S&P 500 acima dos 7000 [pontos] em 12 meses. Pelo contrário, numa contração dos múltiplos para 18x/19x, facilmente o índice corrige para os 5000 pontos. […] Se se verificar expansão dos múltiplos, os ativos denominados em dólares continuarão a registar um excesso de performance. Caso contrário, é preferível evitar ativos com risco porque o ajustamento deverá ser geral.”
ANTÓNIO SELADAS
AS Independent Research
António Seladas, diretor da AS Independent Research, reforça que “estamos num ambiente de bolha”, mas “por vezes as bolhas demoram a rebentar e, entretanto, o desempenho é muito forte”. Ainda assim, “o caminho deverá ser sempre na redução da exposição a ativos com risco”.
“Os investidores terão de se focar mais em temas específicos do que em grandes classes de ativos”, considera André Themudo, responsável pelo negócio em Portugal da BlackRock. O especialista acredita que, face ao cenário, temas como a IA e a transição para uma economia de baixo carbono podem ser focos importantes, embora reconheça que “podem surgir riscos se as avaliações da IA ultrapassarem os fundamentos ou se as restrições da oferta afetarem o crescimento”.
O caminho poderá ser o de procurar carteiras mais equilibradas, face à incerteza global. E, nesta lógica de diversificação, uma maior exposição a obrigações corporate de longo prazo e ativos de refúgio, como o ouro, poderão ser alternativas de interesse.
“O mercado das obrigações pode surpreender, principalmente no campo da dívida corporativa, ou seja, emitida pelas empresas, que a dez anos apresenta uma rentabilidade interessante em dólares, superior a 5% e em euros ainda se consegue investimentos com uma expetativa de 4% de rentabilidade, o que é especialmente interessante quando se esperam juros abaixo dos 2% no fim de 2025.”
PEDRO LINO
Optimize Investment Partners
Noutras classes de ativos, as criptomoedas atravessam um período claramente favorável, alavancadas pelos ETF de criptoativos e pela antecipação de políticas favoráveis de Donald Trump a favor destes ativos. “A recuperação da Bitcoin poderá continuar, com possíveis novos máximos, mas as criptomoedas de menor dimensão poderão apresentar variações no preço mais agressivas”, afirma Vítor Madeira, analista da XTB.
“No mercado das criptomoedas, espera-se que a Bitcoin continue a sua trajetória ascendente, impulsionada por fatores como a acumulação de ETF e desenvolvimentos políticos favoráveis nos EUA, apesar da possibilidade de elevada volatilidade.”
VÍTOR MADEIRA
XTB
Quanto aos investimentos em imobiliário em 2025, “todos os segmentos apresentam perspetivas de investimento favorável”, reforça Patrícia Barão, Partner and Head of Residential da Dils. O crescimento de zonas secundárias (acelerado pelo teletrabalho) e novos projetos no mercado do arrendamento, residências de estudantes ou seniores são algumas das oportunidades elencadas pela especialista.
“Os investidores devem focar-se em diversificação para proteger as suas carteiras e aproveitar oportunidades em 2025. Uma alocação equilibrada entre ações de crescimento (tecnologia, IA), obrigações de longo prazo e ativos defensivos, como o ouro, será essencial.”
JOÃO QUEIROZ
Banco Carregosa