Fala-se cada vez mais sobre investimento sustentável. Este é definitivamente um conceito que veio para ficar e a União Europeia está inclusive a trabalhar para regulamentá-lo, de modo a que todos possam estar envolvidos: as empresas, que necessitam de dar a conhecer como se comportam de forma sustentável; os gestores de ativos, que precisam de divulgar como incorporam os critérios de sustentabilidade na seleção de ações nas suas carteiras e fundos; e os consultores de investimento, que têm de saber junto dos seus clientes quais as suas preferências em termos de sustentabilidade.
Mas “sustentabilidade” pode significar diferentes coisas para diferentes pessoas e o investimento sustentável pode incluir também diferentes estratégias e conceitos. Neste artigo tentamos esclarecer os diferentes conceitos do investimento sustentável, para que cada um o possa compreender e, assim, investir de acordo com os seus princípios.
1) Integração ESG: critérios ambientais, sociais e de governação – É uma abordagem que, além da análise financeira tradicional, considera também a atuação das empresas em termos ambientais, sociais e de governo das sociedades, critérios que são normalmente indicados como ESG (sigla que deriva do inglês Environmental, Social and Governance).
Em termos gerais, estas três áreas abarcam questões como:
– Ambiente: alterações climáticas, desflorestação, biodiversidade e gestão de resíduos;
– Social: condições de trabalho, diversidade, nutrição, saúde e segurança;
– Governação: estratégia e políticas de remuneração, independência e diversidade na composição dos órgãos de administração.
A integração ESG envolve a compreensão dos fatores mais relevantes aos quais o investimento está exposto e a garantia de que os investidores serão compensados pelos riscos que lhes podem estar associados.
2) Investimento sustentável – O investimento sustentável, além de ter em conta os critérios ESG, vai focar-se nas empresas que se destacam e lideram, nos respetivos sectores, as boas-práticas ambientais, sociais e de governo das sociedades.
As abordagens de investimento sustentável e de integração ESG implicam envolvimento com os órgãos de administração, de modo a assegurar que as empresas estão realmente a ser geridas da melhor forma, e pode significar, se necessário, desafiar e encorajar estes órgãos a repensar e melhorar práticas de sustentabilidade.
3) Screened investing – É a expressão usada habitualmente para designar que a decisão de investir (ou não investir) numa dada empresa é feita com base na triagem de critérios específicos ou privilegiando um critério em particular. Por exemplo, se um investidor deseja investir em empresas que promovam a diversidade no local de trabalho, um dos critérios a considerar pode ser a presença de mulheres e minorias em cargos de gestão e administração, ou a existência de políticas que visem a inclusão e equidade. Estes fatores são usados para incluir e excluir deliberadamente de uma carteira as empresas que respeitam ou não estes critérios (triagem positiva e triagem negativa).
4) Investimento ético – O investimento ético é um exemplo específico de triagem. Neste caso, os investidores filtram os investimentos que consideram antiéticos por não se enquadrarem nos valores em que acreditam (por vezes, o investimento ético é referido como investimento baseado em valores).
Exemplos deste tipo de triagem negativa podem relacionar-se com as ações de empresas que fabricam armas, álcool ou tabaco, ou que disponibilizam serviços como jogos de azar ou entretenimento para adultos, que determinados investidores consideram imorais.
5) Investimento de impacto – É investimento em que o nosso dinheiro está a ser direcionado para empresas ou atividades que tenham um resultado específico, mensurável e benéfico para o ambiente e (ou) para a sociedade.
Muitos investidores têm como referência para esta opção de investimento os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) definidos pelas Nações Unidas: 17 objetivos que representam os grandes desafios enfrentados pela sociedade a nível global e que, embora tenham sido definidos como metas para a ação política mais do que metas de investimento, permitem aos investidores contribuir para a resolução de problemas centrais.
Por vezes, o investimento de impacto é confundido com iniciativas de solidariedade (um donativo a uma causa, por exemplo), mas aqui o objetivo não é o mesmo porque, além de se promover um benefício social, pretende-se obter um retorno do investimento.
6) Investimento temático – Trata-se, neste caso, de investir de acordo com um tema específico dentro das várias vertentes que integram a sustentabilidade.
Por exemplo, um investidor centrado no tema “saúde e bem-estar” vai considerar fundos especializados em empresas ou marcas direcionadas à alimentação saudável ou à produção de medicamentos e vacinas. Já um investidor centrado no tema “ambiente” irá selecionar empresas e tecnologias “verdes”, que atuem nas energias renováveis, no uso mais eficiente de recursos ou que possam substituir matérias-primas finitas e poluentes por materiais naturais e renováveis.
Embora as estratégias de investimento sustentável não se esgotem nestes seis conceitos, eles são um bom ponto de partida para conhecer e distinguir entre as abordagens mais comuns a este tipo de investimento que veio para ficar e que mais investidores têm vindo a procurar.