Corre o risco de seguir o que a maioria diz? Os mercados turbulentos podem levar a comportamentos emocionais em vez de racionais. Eis como pode diagnosticar e desafiar os seus próprios “enviesamentos comportamentais”.
A Covid-19 tornou os mercados financeiros em alguns dos mercados mais voláteis da história recente. Em tempos de tanta incerteza é comum tomarmos decisões emocionais, não inteiramente racionais. Podemos ceder às nossas emoções de diferentes maneiras, e estas são chamadas de “enviesamentos”. Estar consciente de como estas podem manifestar-se no investimento – e como lidar com elas – poderá ajudá-lo a tomar melhores decisões financeiras.
Como disse Aristóteles: “Conhecer-se a si mesmo é o princípio de toda a sabedoria”.
Confiança excessiva: é melhor do que os outros?
O excesso de confiança é a tendência para as pessoas serem mais confiantes das suas próprias capacidades do que é razoável e realista.
De facto, em muitos casos, as pessoas consideram-se acima da média; um inquérito aos automobilistas americanos revelou que 93% considerava-se acima da média.
Agora imagine que acabou de escolher algumas ações ou fundos de investimento que têm tido um bom desempenho. Se for afetado pelo enviesamento de excesso de confiança, provavelmente concluirá que o sucesso se deve à sua capacidade de investimento e não à sorte. Curiosamente, na situação oposta – quando as coisas não correm bem – as pessoas tendem a interpretar o contrário: dizem que o resultado negativo se deve à má sorte e não à sua falta de habilidade.
Esse sucesso inicial pode levá-lo a assumir maiores riscos, pois tem a ideia errada de que as suas capacidades de investimento o tornarão bem-sucedido vezes sem conta.
Embora isto possa levar a maiores recompensas, infelizmente é igualmente provável que resulte em maiores perdas.
*Os nossos conselhos*
Comece por não ignorar os dados, simplesmente porque pensa que não há forma de estar errado ou porque pensa que já sabe como o cenário irá desenrolar-se.
Considere cuidadosamente os efeitos negativos de estar errado e a possibilidade muito real de não ser melhor do que os restantes.
Viés de confirmação – procura aqueles que concordam consigo?
Esta é a tendência para procurar e favorecer informações que confirmem as suas crenças.
Como disse Warren Buffett: “O que os seres humanos fazem melhor é interpretar todas as novas informações de forma a que as suas conclusões anteriores permaneçam intactas”.
Temos o dobro da probabilidade de procurar informações que nos provem estarmos certos, do que de procurar provas que nos provem estarmos errados, segundo Ray Dalio, outro famoso investidor que escreveu o livro “Princípios: Vida e Trabalho”.
Isto não é tão surpreendente quanto possa parecer: está na nossa natureza gostar de estar certo e odiar estar errado, por isso gravitamos naturalmente em direção à informação que confirma o quão certo estamos.
Por exemplo, pode ter uma crença pré-concebida sobre o potencial de retorno de uma ação, setor ou estilo. Consequentemente, é mais provável que procure provas que confirmem esta crença do que provas que não o façam. Mesmo quando apresentadas com informações contrárias, podemos optar por rejeitá-las ou não as apreciar de todo.
Este sentido é comum em muitas facetas da vida e pode explicar porque duas pessoas podem ver as mesmas provas, mas chegar a conclusões diferentes.
*O nosso conselho*
Alguns dos melhores investidores tentam ultrapassar isto, procurando ativamente aqueles cujas opiniões diferem das suas próprias.
Esta mudança subtil de ênfase, de querer estar certo para querer saber o que é certo, pode ter implicações profundas.
Aversão às perdas: a dor de perder afeta-o mais do que o prazer de ganhar?
A aversão à perda é um sentido emocional que envolve a tomada de medidas (ou a não tomada de medidas) para evitar uma perda. Resume-se à teoria de que as perdas são mais dolorosas do que os ganhos ou, dito de forma mais simples: “as perdas são mais importantes do que os ganhos” para as pessoas.
As pessoas que exibem um enviesamento de aversão à perda, ao tomar decisões de investimento tendem a concentrar-se mais no lado negativo e a dar menos peso ao lado positivo.
Isto pode levar os investidores a agarrarem-se a investimentos em queda, durante demasiado tempo, por medo de cristalizar uma perda. Da mesma forma, podemos vender investimentos em ascensão demasiado cedo, por receio de perder os ganhos.
*O nosso conselho*
Para resolver o primeiro exemplo, pode ser uma boa ideia aplicar uma política rigorosa de stop-loss que limite as perdas a um montante controlável. Já o contrário pode funcionar no caso do último exemplo: determinar um preço-alvo razoável ao qual gostaria de vender o seu investimento. Em qualquer dos casos, é essencial determinar a sua tolerância ao risco.
O efeito de rebanho: está a ser indevidamente influenciado por outros?
O efeito de rebanho é a tendência para ser influenciado pelo comportamento e decisões dos que nos rodeiam.
É o mesmo que FOMO (“fear of missing out “) – quantos de nós acabámos por comprar o último iPhone só porque os nossos amigos o fizeram? Simplesmente não queremos ser deixados para trás.
Ao investir, o efeito de rebanho pode causar a formação de “bolhas”. Basta olhar para o que aconteceu na Crise Financeira Global e para as quedas do dotcom. Cada vez mais pessoas saltaram para o comboio e empilharam-se no setor imobiliário e tecnológico, respetivamente, e os valores tornaram-se inflacionados, acabando por levar a quedas de mercado que devastaram milhões.
Pode ser emocionalmente difícil, e é preciso muita coragem para ir contra a multidão (ou ter a visão “contrária”, como se costuma dizer). Isto não quer dizer que a tomada de decisões em grupo, seja em si, uma coisa má; de facto, é mais provável que conduza a melhores decisões em circunstâncias normais.
O que é perigoso é seguir cegamente e imitar os outros sem qualquer razão. Ao fazê-lo, podemos não saber a extensão total do que nos comprometemos a fazer.
*O nosso conselho*
É essencial compreender o que é uma boa decisão de investimento para si, e não apenas porque é a última moda ou tendência. Ao fazer estes “trabalhos de casa”, poderá descobrir que não seguir a última tendência – por mais emocionalmente dolorosa que seja – pode compensar a longo prazo.
Pensamento objetivo em tempos de incerteza
Os sentidos comportamentais podem prejudicar a nossa capacidade de tomar decisões de investimento sólidas, especialmente num ambiente de investimento tão incerto.
É muito mais fácil dizer do que fazer, mas abordar os seus enviesamentos e fazer julgamentos sólidos e objetivos pode fazer a diferença entre uma boa decisão de investimento e uma má decisão.
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