Espera-se que a economia global se reforce significativamente no final deste ano, à medida que o confinamento e as restrições forem levantados. O distanciamento social e o uso de máscaras faciais deverão permanecer, mas a reabertura do sector dos serviços deverá originar o maior crescimento do PIB desta geração.
Isto será extremamente bem-vindo e, na verdade, já é aguardado ansiosamente pelos investidores, mas queríamos olhar para além do ressalto e considerar o que poderá surgir quando as coisas se normalizarem.
Qual será o efeito a longo prazo da pandemia na actividade económica? Deixará uma marca duradoura na economia que afectará a nossa taxa de crescimento nos próximos anos? Ou os efeitos da pandemia dissipar-se-ão, permitindo uma taxa de crescimento mais rápida e mais sustentável? Será esta uma versão do século XXI dos “Loucos anos Vinte”?
Três temas chave
É de esperar que a recessão mais profunda de que há memória tenha um impacto duradouro. A contracção da economia global em 2020 tem estado ao nível da Grande Depressão da década de 1930. Para avaliar a velocidade e extensão da recuperação, analisamos três temas chave:
- A causa: crises diferentes deixam sequelas diferentes
Deve ser feita uma distinção entre as crises causadas por factores externos (exógenos) e as que são endógenas ou geradas internamente: as primeiras tendem a ter recuperações mais rápidas do que as segundas.
A actual recessão é em grande parte exógena, uma vez que a pandemia de COVID-19 fez parar a economia global. Neste sentido, é semelhante a uma guerra, na qual a actividade económica quotidiana pára e toda a atenção está concentrada na sobrevivência à ameaça externa. Uma vez terminada a “guerra”, a economia deverá normalizar-se rapidamente à medida que a ameaça desaparece.
Como casos de crise endógena temos o exemplo da anterior recessão de 2008-09, a crise financeira Mundial (CFM a partir de agora), uma vez que teve origem no sistema financeiro como consequência de um sector bancário excessivamente alavancado. A recuperação após a CFM foi lenta e frágil, e a actividade económica não regressou aos níveis anteriores, até 2011 nos Estados Unidos, e em grande parte da zona euro.
Nesta perspectiva, as probabilidades de recuperação são melhores do que eram há 10 anos. A nossa previsão actual prevê que a actividade regresse aos níveis pré-pandémicos no segundo trimestre deste ano nos EUA, e no quarto trimestre do próximo ano no Reino Unido; isso levará 1 e 2 anos, respectivamente.
- Desequilíbrios: dívida e défices
No entanto, a pandemia tem criado desequilíbrios significativos. O impacto na dívida pública tem sido grande e semelhante ao da CFM. Mas parece que os governos aprenderam as lições da crise de 2008-09 e não estão a planear um aperto da política fiscal para restaurar as finanças públicas. Na nossa opinião, esta postura terá de ser acompanhada por um período prolongado de taxas de juro baixas para ser sustentável.
Do lado do sector privado, as famílias não estão sob pressão, dado o forte aumento das poupanças durante a pandemia. Contudo, existem excepções, e os efeitos da pandemia têm sido perceptíveis nos grupos de menores rendimentos.
Finalmente, o sector empresarial americano está actualmente a gerir um pequeno excedente financeiro, depois de deduzidas as despesas de investimento. A queda das taxas de juro está a ajudar a manter baixos os níveis de alavancagem e as empresas aumentaram os níveis recorde de capital nos mercados obrigacionistas. Além disso, a actual situação excedentária não foi impulsionada por um corte no investimento fixo. Em vez disso, deve-se em grande parte à recuperação da actividade, que já impulsionou o fluxo de caixa e os lucros.
Isto marca uma diferença fundamental para a crise financeira mundial, quando o CAPEX caiu e foi o maior contribuinte para a desaceleração em 2008 e 2009. Desta vez, o investimento empresarial enfraqueceu no início do abrandamento económico, mas está agora a fortalecer-se, e os inquéritos sugerem que isto continuará nos próximos meses, o que significa que o impacto negativo no lado da oferta da economia será limitado.
Em conclusão, poderíamos dizer que a nossa análise até agora sugere que as perspectivas de um regresso às taxas de crescimento normais parecem promissoras, dada a recuperação relativamente rápida da economia global, a ausência de grandes desequilíbrios e a retoma do investimento. No entanto, o aumento da dívida pública pode pôr isto em causa e devemos ser particularmente cautelosos se os decisores políticos decidirem prosseguir o caminho da austeridade e reprimir a economia como fizeram após a CFM.
- Disrupção: como será a despesa pós-pandémica?
O desafio que se avizinha é a medida na qual os recursos terão de ser reorganizados para satisfazerem os padrões de despesa na nova economia pós-pandémica.
Como irá a experiência da pandemia afectar as despesas na década de 2020? Iremos enfrentar um grande impacto do encerramento de empresas, da redução de capital e do desemprego?
Antecipar a procura futura é sempre complicado, até porque não conhecemos muitos dos produtos que serão criados ou como os problemas futuros poderão afectar as despesas.
Assumimos que a pandemia termina e o vírus torna-se endémico; sempre connosco, mas sem representar a mesma ameaça à vida quotidiana. O forte desempenho do sector industrial em toda a pandemia significa que o foco será na recuperação dos sectores mais duramente atingidos, tais como o retalho, o turismo, as artes e o entretenimento.
Keith Wade, economista-chefe da Schroders
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