A Global Sustainable Investment Alliance (GSIA) afirma que a quantidade de ativos sustentáveis aumentou 25% entre 2014 e 2016, que já equivalem a 26% do volume total de ativos geridos a nível global. Um dos principais impulsionadores deste crescimento foi o crescente interesse dos millennials por este tipo de produtos. Segundo o Estudo Global de Investimento de 2018 da Schroders, 71% dos jovens portugueses entre os 18 e os 36 anos aumentaram a sua participação nesta modalidade de investimento. Esta geração afirmou também que investe mais em fundos sustentáveis do que os maiores de 36 anos (43% da sua carteira vs 34%), o que demonstra que esta tendência veio para ficar.
Não obstante, existe ainda muita confusão sobre o que significa o investimento sustentável. Por um lado, existem várias formas de classificação ASG, que utilizam critérios e metodologias diferentes. Neste sentido, a União Europeia tem em marcha um projeto que visa homogeneizar critérios e conceitos. No entanto, ainda não existe um selo universal e homogéneo que nos permita delegar o cumprimento de uma certa ética de investimento num agente estrangeiro.
Por outro lado, ainda existe muito desconhecimento entre os investidores. Muitas pessoas consideram que o investimento sustentável consiste unicamente em evitar empresas vinculadas a sectores considerados pouco éticos como o tabaco, álcool ou jogo (denominados “sin stocks” em inglês), mas a realidade vai muito mais além. Na última década, esta modalidade de investimento converteu-se num aspeto crucial para a indústria e fez com que tenham surgido diversos conceitos relacionados com a sustentabilidade que muitas vezes são difíceis de entender.
De seguida, explicamos os 10 conceitos básicos relacionados com o investimento sustentável:
- Integração de critérios ESG: consiste em avaliar as carteiras de investimento tendo em conta os riscos e oportunidades relacionados com os critérios ESG (fatores ambientais, sociais e de boa governança), incluindo estas considerações na tradicional análise financeira. Oferece assim uma análise mais completa para entender as oportunidades e riscos futuros do que a análise fundamental tradicional.
- Fatores ambientais: são problemas relacionados com o uso de recursos, contaminação, alteração climática, uso de energia e outros desafios e oportunidades para o meio ambiente. As medidas comuns incluem as emissões de carbono, o consumo de água e energia, a gestão de resíduos e a contaminação.
- Fatores de boa governança: fazem referência a fatores que medem a qualidade, solidez de estrutura e as práticas internas de uma empresa, bem como a sua consideração pelos direitos dos acionistas, a sua responsabilidade e transparência. As medidas de governança podem incluir a estrutura, independência e compensação do conselho executivo, bem como a independência do auditor.
- Fatores Sociais: têm em conta os problemas relacionados com as tendências sociais, como as alterações demográficas, atos sociais, confiança social e outros comportamentos. Os investidores podem utilizar a análise destes fatores para avaliar a contribuição que uma empresa tem na sociedade (como executivos responsáveis) ou para avaliar a capacidade de uma empresa em se adaptar às pressões que essas tendências sociais exercem sobre os modelos de negócio e respetiva rentabilidade.
- Participação ativa: refere-se à participação ativa nos conselhos diretivos das companhias com o objetivo de definir a estratégia de negócio e a consequente execução, onde se incluem a gestão específica de políticas e temas relacionados com sustentabilidade. É uma forma de reduzir o risco de investimento, melhorando o valor dos acionistas a longo prazo.
- Administração (Stewardship): consiste no diálogo entre os acionistas e conselhos de administração com o objetivo de garantir que a estratégia a longo prazo da companhia é eficiente e que está alinhada com os interesses dos acionistas. Uma boa administração (Stewardship) deve ajudar a proteger e aumentar o valor dos investimentos.
- Valorizações destacadas (Best-in-class): foco no investimento que se baseia na comparação e que investe em companhias que, dentro do seu sector de atividade, obtêm melhor valorização ESG.
- Filtragem negativa ou de exclusão: esta estratégia de investimento baseia-se em excluir determinadas companhias que pertencem a um sector específico ou que contam com determinados comportamentos pouco éticos (por exemplo, álcool, jogo e entretenimento para adultos).
- “Sin” stock: ações de companhias associadas direta ou indiretamente com atividades consideradas pouco éticas ou imorais.
- Investimento ecológico: investimento em companhias e tecnologias que se consideram positivas para o meio ambiente, como empresas que oferecem fontes alternativas de energia ou aquelas que demonstram um historial de redução do seu impacto ambiental. É importante ter em conta que nem tudo gira em torno da ecologia quando falamos de investimento ESG. É verdade que até agora a componente ambiental tem predominado sobre os restantes temas, no entanto, as questões sociais e de governança corporativa têm cada vez mais importância.
Entender todos estes conceitos não é tarefa fácil e deixa antever a importância que tem na educação financeira quando falamos de investir de forma sustentável, um facto apoiado por dados: em Portugal (e no resto do mundo) os investidores com mais conhecimentos investem uma parte maior da sua carteira numa vertente sustentável do que os que detêm menos conhecimentos (46% vs 35%) .