Nos últimos anos, o mercado acionista norte-americano tem-se tornado cada vez mais concentrado. Hoje, um grupo pequeno de empresas domina o S&P 500, o índice que representa as 500 maiores empresas cotadas dos Estados Unidos. As chamadas “Magnificent 7” (Nvidia, Microsoft, Apple, Amazon, Meta, Alphabet e Tesla) já valem, em conjunto, mais de um terço do valor total do índice.
Isto significa que o desempenho destas empresas tem um peso considerável no mercado norte-americano, ou seja, quando as tecnológicas sobem, o S&P 500 sobe com elas, quando desvalorizam, o impacto é igualmente sentido em larga escala. O índice, que durante décadas refletia um retrato diversificado da economia americana, passou a comportar-se muito mais como um espelho do setor tecnológico.
A concentração no S&P 500 não é um fenómeno recente, e o peso das maiores empresas no índice tem oscilado, mas nos últimos anos voltou a subir de forma significativa. Em 1980, as dez maiores empresas representavam cerca de 26% do S&P 500, valor que desceu para 18% em meados dos anos 90. Atualmente, esse peso ronda 39%, o nível mais elevado das últimas décadas.
Porém, existe uma diferença clara em relação ao passado. As líderes atuais são muito mais rentáveis e eficientes. Empresas como a Apple, a Microsoft ou a Google (Alphabet) geram margens de rentabilidade bastante superiores aos gigantes de outras épocas. Em 1990, por exemplo, a AT&T tinha um retorno sobre os ativos de apenas 3% a 5%, enquanto hoje a Apple supera os 20%.
Esta concentração tem também implicações para os investidores comuns. Quem investe em fundos ou ETFs que seguem o S&P 500 pode pensar que está bastante diversificado, mas, na prática, uma parte muito significativa do investimento está concentrada nestas empresas. Isso significa que o desempenho da carteira depende em grande medida do que acontecer a este pequeno grupo de ações, sobretudo do setor tecnológico.
Se essas empresas continuarem a crescer, os resultados podem ser excelentes. Mas se houver uma correção nas grandes tecnológicas, o impacto no portefólio será imediato. Por isso, mesmo para quem investe de forma passiva, é importante perceber onde está realmente exposto.
Embora este domínio das Magnificent 7 pareça inabalável, a história mostra que o mercado raramente é estático. Em média, a cada década, cerca de um terço das dez maiores empresas é substituído por outras. Gigantes do passado, como IBM, Exxon ou General Electric, já saíram do topo para dar lugar a novos líderes.
Além disso, o ritmo da inovação acelerou. As empresas demoram cada vez menos tempo a alcançar a escala global. Por exemplo, o TikTok atingiu mil milhões de utilizadores em apenas cinco anos, e o ChatGPT está a caminho de fazer o mesmo num espaço temporal ainda mais curto. Este ambiente de mudança cria espaço para novas empresas emergirem, especialmente entre as small e mid caps.
Tudo indica que a concentração elevada poderá manter-se por algum tempo. As grandes tecnológicas têm negócios com margens altas, ecossistemas integrados e uma capacidade enorme de investimento e inovação. Mas isso não significa que dominarão para sempre. A vantagem competitiva das empresas tende a durar menos, o tempo médio que uma empresa permanece no S&P 500 caiu de 35 anos, em 1970, para cerca de 20 anos, atualmente.
Compreender esta dinâmica é fundamental para o investidor, sendo que o S&P 500 evolui com a própria economia norte-americana, acompanhando as mudanças tecnológicas e de consumo que moldam cada geração de empresas.