Carros alegóricos, desfiles, serpentinas e muitas máscaras. Todos os anos, o Carnaval enche de festa as ruas do país. Mas quanto custa organizar um Carnaval em Portugal? O MoneyLab contactou as organizações de algumas das principais comemorações carnavalescas do país e há orçamentos para vários bolsos: desde alguns milhares até mais de um milhão de euros. E o retorno compensa o investimento, garantem.
A vida são dois dias, o Carnaval são três, diz o provérbio. Mas a verdade é que para as autarquias e associações na organização destas festas populares, o Carnaval é preparado com meses de antecedência e implica um forte investimento de recursos financeiros, humanos e materiais – além de um esforço logístico em larga escala. E, também nos orçamentos do Carnaval, a inflação faz-se sentir.
Em troca do investimento, as vilas e cidades carnavalescas recebem centenas e milhares de foliões, dão forte impulso ao comércio e turismo da região e preservam tradições e património imaterial. Um retorno financeiro – e não só – que, de acordo com quem organiza, compensa o investimento feito.
De cortejo em cortejo, quanto custa o Carnaval? Ao MoneyLab, autarquias e associações explicam quanto custa o Carnaval que estão a organizar, quais os destaques dos programas de 2024 e qual o retorno esperado.
Torres Vedras: mais de um milhão de euros no maior Carnaval do país
Conhecido como o maior Carnaval de Portugal, o Carnaval de Torres Vedras representa um orçamento de 1,1 milhões de euros em 2024.
Ao MoneyLab, a Promotorres, empresa municipal que organiza o Carnaval de Torres explica que “o orçamento tem vindo a aumentar, sendo que nestes dois últimos anos, 2023 e 2024, o aumento foi mais acentuado, resultado da inflação, do aumento da prestação de serviços e fornecimento de bens”. Em 2023, o investimento foi de 930 mil euros.
Analisando o retorno das festividades para a região, a organização não tem dúvidas do impacto gerado. Em 2013-2015, um estudo de impacto económico e mediático do CiTUR – Centro de Investigação, Desenvolvimento e Inovação em Turismo avaliou o impacto do Carnaval de Torres Vedras em cerca de 10 milhões de euros na economia local. “Volvidos praticamente 10 anos, e resultado da inflação dos preços, mas também do crescimento do próprio evento, facilmente se conclui que aos dias de hoje o impacto será bem superior”, reforça a organização.
De acordo com a Promotorres, a verba disponível para a organização do Carnaval advém tanto de parcerias com patrocinadores, como das receitas diretas do evento, como a atribuição dos espaços para stands de comida e bebida, e a venda de entradas – que, este ano, oscilam entre os 8 e os 16 euros, para diferentes tipologias (kit oficial, livres-trânsito e bilhetes diários).
Na edição de 2024, que assinala o encerramento das comemorações do centenário do Carnaval de Torres Vedras (iniciadas em 2023), são esperados mais de 500 mil foliões aos longo dos seis dias de festividades, sob o tema “Carnaval do Futuro”. Os visitantes juntam-se às associações carnavalescas, aos ‘cabeçudos’ grupos de mascarados, escolas, músicos e DJ que compõem este Carnaval.
A dimensão das festividades impõe cuidados redobrados: ao longo dos dias do evento, reforçam-se as equipas de limpeza, mas também as forças de segurança e a assistência com cuidados de saúde. A organização adianta que estas são algumas das componentes mais ‘pesadas’ do orçamento do Carnaval de Torres Vedras, a par das rubricas relacionadas com os carros alegóricos e tradicional Monumento ao Carnaval, animação e apoio aos grupos participantes.
Este ano, a segurança foi uma das vertentes reforçadas no orçamento, “não porque tenham existido ocorrências que o justifiquem, mas sim porque a segurança de pessoas e bens é a nossa grande prioridade”, explica a organização, adiantando que neste Carnaval haverá mais câmaras de vídeo-vigilância, mais portas de acesso e bilheteiras e um recinto noturno alargado.
Carnaval da Madeira impulsiona hotelaria da região
Doze dias de festividades, 13 trupes e 5500 pessoas envolvidas (incluindo 5000 voluntários) são a base da edição de 2024 do Carnaval da Madeira.
Contas feitas, as Festas de Carnaval 2024 representam um investimento previsto de 515 mil euros, assegurado, na íntegra, pelo Orçamento da Região Autónoma da Madeira, através da Secretaria Regional de Turismo e Cultura.
A verba contempla a realização dos diversos eventos que compõem as festividades: o Grande Cortejo Alegórico, o Cortejo Trapalhão (marcha satírica), a iniciativa do Carnaval Solidário e do Carnaval das Crianças, 30 concertos de música ao vivo e animação diversa na baixa do Funchal. Do orçamento, 300 mil euros estão alocados diretamente ao apoio dos grupos que desfilam no Grande Cortejo.
Em relação a 2023, o orçamento total das Festas de Carnaval 2024 teve um aumento de 115 mil euros. “Neste ano e à semelhança do anterior, verificaram-se nos diversos eventos repercussões da inflação e do aumento generalizado dos preços nos bens e serviços, havendo uma reflexão imediata destes fatores no orçamento”, explica o Gabinete do Secretário Regional.
Questionado sobre o retorno deste investimento, o Gabinete do Secretário Regional reforça, ao MoneyLab, a importância do Carnaval nas receitas de turismo da Madeira. O organismo indica, por exemplo, um estudo feito em 2023 que dava conta de uma taxa de ocupação-cama nas unidades hoteleiras de 87,5%, durante a época de Carnaval.
Carnaval de Ovar estima impacto positivo de 5M € para a região
De 31 de janeiro a 13 de fevereiro de 2024, Ovar celebra também o seu Carnaval. Com uma programação de mais de 50 iniciativas, há lugar para corsos e desfiles noturnos, concertos, exposição de ‘cabeçudos’, desfile de piadas coletivas e Chegada do Rei, entre outros, naquele que é um dos Carnavais mais emblemáticos de Portugal. Ao todo, cerca de duas mil pessoas vão desfilar pelas ruas de Ovar.
Mas quanto custa o Carnaval de Ovar? O orçamento global ronda os 700 mil euros, em linha com anos anteriores, a que se soma um apoio de 219 mil euros para os grupos de Carnaval e Escolas de Samba.
Este investimento provém exclusivamente de fontes municipais e, segundo a autarquia, “o impacto económico compensa largamente o investimento realizado”, indicando um “impacto económico positivo no município na ordem dos cinco milhões de euros”. As receitas diretas advêm das bilheteiras e hastas públicas de ocupação de espaço público, mas tudo depende da afluência de público e, em última instância, das condições meteorológicas. “Há anos em que é necessário cancelar eventos devido à meteorologia adversa”, adianta a organização.
Em 2023, a receita direta do Carnaval de Ovar foi superior a 533 mil euros. Nesse ano, os festejos ovarenses receberam 150 mil espetadores. Em 2024, a autarquia espera atrair ainda mais foliões.
“O maior Carnaval jamais realizado em Loures”
No Carnaval de Loures, o objetivo é “garantir uma receita igual à despesa”, tendo em conta as especificidades destes festejos. A organização está a cargo da Associação do Carnaval de Loures e o corso carnavalesco é de entrada livre, com um investimento “suportado, em grande parte, pelos próprios figurantes que desfilam e que pagam uma parte significativa do custo da sua alegoria”, conta a direção da Associação.
Em 2024, a entidade promete “o maior Carnaval jamais realizado em Loures”, com cerca de 2500 figurantes a desfilar, 15 carros alegóricos e a expetativa de ultrapassar os 100 mil visitantes registados em 2023.
450 mil euros é quanto custa o Carnaval de Loures 2024, de acordo com o orçamento previsto da Associação. Além do esforço dos próprios figurantes, o orçamento ancora-se em donativos da Câmara Municipal de Loures, da Junta de Freguesia de Loures e de particulares, quotas de sócios da Associação e patrocínios.
A verba representa um crescimento de 10-15% em relação ao orçamento do ano anterior, devido sobretudo à inflação.
Em termos de retorno, o objetivo é “garantir uma receita igual à despesa, tendo como objetivo incrementar o apoio concedido a cada figurante”, assim como “fazer crescer a dimensão e visibilidade do Carnaval de Loures”, refere a direção da Associação. O evento consegue, anualmente, “proporcionar a todos os empresários e comércio local um incremento nas suas receitas e na visibilidade da cidade, fomentando a zona turística de Loures”, acrescenta o organismo.
Quanto custa o Carnaval de Sines?
O Carnaval está de regresso a Sines e, com o evento, também os visitantes de fora da região, que ajudam a dinamizar o comércio local, como hotéis e restauração.
Ao todo, há um investimento de 180 mil euros para a organização do Carnaval de Ovar 2024, adianta Rui Encarnação, presidente da Associação de Carnaval de Sines, ao MoneyLab. O valor tem como fonte principal o apoio do município, a que se junta o apoio da junta de freguesia, as receitas de eventos da associação e patrocínios de empresas locais.
“O investimento tem evoluído progressivamente”, indica o presidente da Associação, explicando que, em comparação com 2023, há um aumento de 20 mil euros justificado pela inflação. A maior parte do orçamento é consumida em aquisições de serviços, som e luz, vedações, segurança e licenças, mas também na parte de construção de materiais, como esferovites, colas e metais.
São esperados cerca de 50 mil visitantes no Carnaval de Sines 2024, ao longo dos cinco dias de festividades. Na organização estão cerca de 2500 pessoas, todas voluntárias.