Reforma antecipada, liberdade financeira e tempo para fazer o que gostamos. Soa bem, não soa? Perceba o que é o movimento FIRE, que tipos de FIRE existem e porque atraem tantas pessoas, em todo o mundo.
Todos estamos familiarizados com a ordem típica das coisas. Trabalhamos e fazemos descontos até à idade da reforma, contando depois com a respetiva pensão e, para alguns, com um menor ou maior complemento de reforma conseguido com poupanças ao longo do vida.
Em Portugal, a idade de acesso à reforma (sem penalizações) encontra-se nos 66 anos e 4 meses, com previsões de subidas. Em sentido inverso, as pensões da Segurança Social caminham para um declínio gradual. Segundo as últimas projeções da Comissão Europeia, a pensão média dos portugueses deverá passar de 69,4% do último salário (valores de 2022) para 38,5% do último ordenado, em 2050. Isto significa que, para quem ganha 1.200 euros, teria de passar a viver com uma pensão de 456 euros por mês.
Mas e se pudesse ser de outra forma?
Perante os cenários, muitos procuram alternativas para o futuro que possam ser mais animadoras e alinhadas com os seus objetivos pessoais. O movimento FIRE (Financial Independence, Retire Early ou, em português, Independência Financeira, Reforma Antecipada), que tem gerado muita curiosidade e seguidores a nível nacional e internacional, pode ser uma opção para alguns.
Neste artigo, explicamos-lhe em que consiste o FIRE, como funcionam os diversos tipos de FIRE e que questões deve colocar para perceber se e qual destas opções é mais adequada para si.
O que significa FIRE?
O Financial Independence, Retire Early, popularizado sob o acrónimo FIRE, é um movimento financeiro baseado na gestão financeira, poupança extrema e investimentos para alcançar a reforma significativamente mais cedo, passando a viver dos rendimentos dos investimentos.
Surgido nos anos 90, nos Estados Unidos, o FIRE tem ganho cada vez mais entusiastas a nível mundial, que seguem os seus princípios de planeamento detalhado, disciplina financeira rígida e alocação de poupanças para investimento com vista ao aumento rápido do património.
Regra geral, o objetivo daqueles que praticam os vários tipos de FIRE é conseguir reformar-se entre os 30 e os 50 anos de idade, passando a viver exclusivamente dos retornos dos investimentos. Por norma, os seguidores do movimento FIRE clássico seguem a metodologia dos 4%. Ou seja, é preciso um património suficiente para garantir uma utilização de 4% (ou menos) das suas poupanças e investimentos a cada ano, durante a reforma.
Regra geral, este valor implica um património equivalente a 25 vezes as suas despesas anuais (o patamar de um milhão de euros é uma meta para muitos), seguindo a “regra dos 25”, para atingir o FIRE. Esta regra pressupõe que continua com investimentos a rentabilizar e um horizonte de 30 anos de reforma, a que são retirados 4% (ou menos) anualmente. Mas, com o aumento da esperança média de vida, o ideal será dar maior margem a este património, para evitar surpresas desagradáveis.
No FIRE, a liberdade financeira é o principal objetivo, mais do que a questão do parar de trabalhar. Até porque, para muitos, depois de atingido o FIRE, é tempo de se poderem dedicar a projetos pessoais que sempre sonharam.
O modelo ganhou vasta popularidade, mas também há quem o critique, considerando que é pouco realista (sobretudo para certas regiões do globo) e que não contempla o impacto de inflação, aumento da esperança média de vida, mudanças abruptas no mercado ou na conjuntura financeira, ou até alguma sensação de insatisfação em quem consegue chegar ao ambicionado FIRE.
Que tipos de FIRE existem e como funcionam?
Nem todas as pessoas que desejam atingir o FIRE têm o mesmo nível de vida ou estão dispostas a fazer o mesmo esforço financeiro. Por isso, foram surgindo diversos tipos de FIRE, a partir do clássico que descrevemos anteriormente. Aqui, listamos alguns dos mais conhecidos.
Lean FIRE
Aqueles que procuram alcançar o Lean FIRE vivem de forma minimalista e planeiam continuar a fazê-lo no futuro, pelo que não precisam de acumular um grande valor.
Imaginemos uma pessoa que consegue, com um nível de vida mais modesto, limitar as suas despesas a 15.000€ anuais. Esta pessoa precisaria de juntar um património de 375.000€ (a partir da “regra dos 25”) para alcançar o seu Lean FIRE e viver dos retornos dos investimentos durante a reforma.
Enquanto esta modalidade pode ser muito desafiante para alguns, outras pessoas fazem-no de forma natural.
Fat FIRE
Aqueles que procuram o Fat FIRE organizam-se para ter um custo de vida acima da média na reforma, privilegiando uma margem para que possam viajar muito, por exemplo, ou simplesmente para se sentirem seguros perante as flutuações do mercado.
Se o custo de vida de determinada pessoa rondar os 50.000€ anuais, por exemplo, precisará de acumular 1.250.000€ para alcançar o Fat FIRE e poder viver dos investimentos durante a reforma.
Como o nome indica, para concretizar este objetivo é essencial acumular uma quantia maior – ou mais “gorda” -, garantindo um bom rendimento e recorrendo a estratégias mais agressivas de poupança e investimento.
Barista FIRE (ou FIRE Intermitente)
O objetivo do Barista FIRE é ter uma margem financeira suficiente para cobrir parcialmente o custo de vida, dependendo o restante do rendimento de um trabalho part-time (por exemplo, barista, que dá o nome a este tipo de FIRE).
Tomemos como exemplo alguém com um custo de vida anual na ordem dos 25.000€, que precisaria de acumular 25 vezes esse valor, ou seja, 625.000€, para alcançar o FIRE tradicional. Com o Barista FIRE, essa pessoa pode ter um objetivo inferior, como 300.000€.
É certo que este valor não basta para atingir o FIRE e viver 100% dos retornos dos investimentos, mas permite a quem o concretiza ter menos trabalho, menos ansiedade com o futuro e mais flexibilidade enquanto faz o que gosta.
Coast FIRE
A melhor forma de compreender esta modalidade de FIRE é através do exemplo da bola de neve: dedicação máxima inicial para alcançar o máximo montante possível no menor período de tempo, criando impulso para que cresça exponencialmente sozinho, através de investimentos e do poder dos juros compostos.
Quem pratica o Coast Fire utiliza os primeiros anos de trabalho para financiar o máximo possível os anos de reforma, com o objetivo de parar de poupar a determinado ponto da vida (entre os 30 e os 50 anos) e aproveitando os seus investimentos para suportar o estilo de vida numa reforma mais perto da idade tradicional (por volta dos 60 anos).
Retomemos o exemplo da pessoa com 25.000€ de custo de vida anual e que precisa de 625.000€ para alcançar o FIRE tradicional. Tendo conseguido investir 200.000€ aos 35 anos de idade, por exemplo, e com uma rentabilidade média de 5% sobre o investimento (e beneficiando do efeito dos juros compostos) poderá atingir mais de 860.000€ aos 65.
Qual o melhor tipo de FIRE para si?
Como pode constatar, existem tipos de FIRE, para diferentes objetivos e estilos de vida.
Contudo, antes de considerar embarcar nesta jornada e para perceber qual a melhor opção para si, deve colocar-se algumas questões, tais como:
- Estou disposto a mudar o meu nível de vida?
- Conseguirei gastar menos atualmente para ter mais no futuro?
- Quero reformar-me mais cedo?
- Quero mudar para um trabalho mais satisfatório?
- Como lido com o risco associado ao investimento financeiro?
- Qual o meu perfil de investidor?
- Pretendo iniciar este processo sozinho ou acompanhado?
Mesmo que o FIRE não seja para si, pode retirar desta estratégia vários ensinamentos úteis para otimizar a gestão do seu dinheiro, começar a investir e melhorar as suas finanças pessoais.