O metal precioso atingiu máximos de nove meses, suportado pelo enfraquecimento do dólar e pela forte procura investidora por ativos de refúgio, após a divulgação de indicadores económicos fracos e receios de recessão nos Estados Unidos. Portugal é o 16º país do mundo com as maiores reservas de ouro que valorizaram mais de mil milhões de euros em 2022.
O ouro tem vindo a valorizar ao longo das últimas sessões e, na semana passada, atingiu um máximo de nove meses, ao bater a fasquia dos 1.939 dólares a onça. A suportar esta escalada esteve desvalorização do dólar e a forte procura por parte dos investidores por ativos de refúgio (o ouro é encarado como um ativo de refúgio em tempos de crise) após a divulgação de indicadores económicos menos favoráveis nos Estados Unidos – como as vendas a retalho que recuaram e os preços ao produtor que caíram mais do que o esperado – bem como de comentários de vários oficiais da Reserva Federal (Fed) norte-americana – como a presidente da Fed de Boston, Susan Collins, que afirmou que provavelmente o banco central precisaria de aumentar as taxas de juros para “um pouco acima” de 5% e mantê-las nesse nível – que alimentaram as preocupações de uma possível recessão nos Estados Unidos.
O preço do metal precioso atingiu, na semana passada, um máximo de nove meses de 1.939 dólares a onça. “O dólar está a enfraquecer e essa é uma das razões pela qual estamos a assistir a uma forte valorização do preço do ouro, que deverá continuar a acelerar”, afirmou Jeffrey Sica, CEO da Circle Squared Alternative Investments, em declarações à agência Reuters.
Atualmente a negociar nos 1.927 dólares a onça e acumulando uma valorização de 6% desde o arranque de 2023, os analistas citados pela agência antecipam que os preços do ouro devem subir para máximos recorde acima de 2 mil dólares a onça este ano, à medida que os Estados Unidos desaceleram o ritmo de aumentos de juros.
Os analistas do Bank of America destacam como principais fatores para esta subida o enfraquecimento da moeda norte-americana e os rendimentos dos títulos que “tornarão ventos favoráveis macro para o metal amarelo, empurrando o ouro acima dos 2.000 dólares/onça nos próximos meses”.
Reservas de Portugal valorizam mais de mil milhões
Portugal é dos países do mundo com maiores reservas de ouro, mais concretamente o 16º país do mundo com as maiores reservas de ouro. De acordo com os dados do World Gold Council, Portugal detém 382,6 toneladas em reservas do metal precioso, uma quantidade que se tem mantido inalterada, já que, até final de 2019, havia um acordo entre bancos centrais – incluindo o europeu e o português – que impedia a venda do metal precioso.
As barras de ouro que estão à guarda do Banco de Portugal têm vindo a valorizar ao longo dos anos e 2022 não foi exceção. De acordo com os dados do Banco de Portugal, no final do ano passado as reservas estavam avaliadas em 20,985 mil milhões de euros, montante que representa uma valorização de 1,189 mil milhões ou de 6%, quando comparado com os 19,796 mil milhões de euros a que estavam avaliadas as reservas no final de 2021.
Uma análise mais profunda ao dados, que remontam a 2001, revela que foi em abril de 2022 que as reservas atingiram o valor mais elevado a que estiveram avaliadas: 22,363 mil milhões de euros (ver gráfico abaixo).
“O ouro é um ativo de alta liquidez que pode ser facilmente vendido em caso de emergência para atender às necessidades urgentes de liquidez do governo ou para realizar operações de câmbio”, afirmou recentemente Hélder Rosalino, administrador do Banco de Portugal, numa conferência internacional.
“O ouro que o Banco de Portugal tem valorizou-se desde que foi cotado em 1999. É um ‘buffer’ que não afeta os resultados e que ao longo do tempo tem vindo a valorizar-se. Além desta importância, as reservas do país ganharam relevância a partir de 2016 com aplicações de ouro em contexto de taxas de juro negativas como ativo de refúgio”, acrescentou.