A demissão do primeiro-ministro levou a uma queda generalizada na bolsa portuguesa no dia de hoje. Ainda assim, para os analistas financeiros, não deverá haver razões para alarme e o mercado tenderá a normalizar rapidamente.
O primeiro-ministro português, António Costa, anunciou hoje, dia 7 de novembro, a sua demissão, no rescaldo de uma investigação do Supremo Tribunal de Justiça. A incerteza política teve consequências imediatas no mercado.
A Bolsa de Lisboa fechou esta terça-feira com uma queda de 2,54% para os 6.227,35 pontos, naquele que foi um dia de volatilidade no PSI provocada pelo anúncio da investigação ao primeiro-ministro e consequente pedido de demissão. Ainda assim, o final do dia trouxe já alguns sinais de estabilização.
“Numa situação como a que estamos a passar, é normal que os mercados reajam e sofram um pico de volatilidade, mas também esperamos que o mercado incorpore estes dados e tenda para uma normalização, que é o que costuma acontecer e o que já vemos nesta altura”, realça Vítor Madeira, analista da XTB Portugal, ao MoneyLab.
Para Nuno Sousa Pereira, Partner e Head of Investments na Sixty Degrees, esta “é uma situação pontual desagradável, mas o que vai contar é o que vem daqui para a frente e vai depender muito da opção do Presidente da República não só de dissolver o Parlamento, e de quando dissolve”. Marcelo Rebelo de Sousa falará ao país na quinta-feira, dia 9 de novembro.
Nenhuma cotada foi poupada na queda generalizada de hoje, embora a Mota-Engil tenha a sido a mais castigada, com perdas que chegaram a rondar os 9% e que reduziram depois para 5,56%. A Greenvolt, depois de cair mais de 6%, fechou com uma queda de 3,24%.
O analista da XTB Portugal realça que as empresas mais afetadas pela turbulência de hoje foram “aquelas que tinham projetos envolvidos mais com o Governo, como é o caso da Greenvolt, da Mota-Engil ou da Galp”.
Vítor Madeira olha ainda para o comportamento de hoje da bolsa de Lisboa para encontrar sinais de força. “Normalmente, quando há uma situação de queda generalizada da bolsa e há empresas que estão a cair pouco, isso é um sinal de força. No futuro, se as bolsas subirem, as empresas que menos caíram hoje poderão ser as que vão continuar a subir”.
Impacto de curto prazo
De acordo com a perceção dos analistas, este será um impacto de curto prazo, puxado sobretudo por uma reação a quente dos pequenos investidores e com tendência a normalizar.
“Eu diria que, numa semana, à partida, a bolsa portuguesa estará normalizada, em linha com as bolsas europeias”, refere Vítor Madeira, destacando o papel dos pequenos investidores na reação do mercado. “O volume de negociações faz-nos crer que são os pequenos investidores que estiveram a vender as ações à pressa, por uma questão de pânico, uma primeira reação. Mas não pela parte dos institucionais”.
Estes indicadores, a somar ao mercado obrigacionista que se manteve estável – com a yield associada às obrigações a dez anos a recuar em linha com as yields europeias – levam a que o analista da XTB preveja uma normalização rápida dos mercados, apesar da instabilidade política.
A incógnita do orçamento
Dependendo do desfecho desta incógnita política, que será mais claro com as declarações do presidente da República ao país, a proposta do Orçamento do Estado para 2024 poderá ficar sem efeito. Isto porque o documento, ainda em Assembleia da República até votação final global marcada para 29 de novembro, perde validade em caso de dissolução do Governo.
Segundo Nuno Sousa Pereira, a questão do Orçamento do Estado é uma das consequências que pode ter maior influência na economia portuguesa. “Os mercados podem vir aqui até a ter uma parte positiva. Se o Orçamento do Estado acabar por não ser aprovado, todas estas discussões salariais da Função Pública e de alguns grupos profissionais ficam postas de lado, porque viveremos em duodécimos até o próximo governo entrar em funções e aprovar o próximo Orçamento do Estado. Isto podia trazer mais controlo da dívida sobre o PIB [Produto Interno Bruto], comenta o analista, acrescentando que, “para a economia, como um todo, [a demissão] não terá um impacto imediato”.
Conselhos aos investidores
Como podem os investidores proteger as suas carteiras neste período? Calma e cabeça fria são alguns dos conselhos a seguir – esta semana e, no geral, perante este tipo de incertezas.
“Ter um plano de longo prazo e seguir um plano de longo prazo”, recomenda Nuno Sousa Pereira. E reforça: “a bolsa caiu hoje dois ou três por cento, mas desde o início do ano que está a ter um comportamento espetacular. […] Nada disto vai descarrilar de um dia para o outro só porque o primeiro-ministro saiu”.
Já Vítor Madeira sugere que os pequenos investidores “podem avaliar bem o que está a acontecer e […] se virem que isso não traz impacto real nas empresas, então poderão até aproveitar este momento para reforçar posições, por exemplo”.