Domitília dos Santos é Diretora Executiva, Diretora de Gestão de Portfólio e International Client Advisor na Morgan Stanley, e falou em exclusivo ao MoneyLab sobre a sua carreira e também sobre boas práticas de gestão financeira.
Gere fortunas numa das maiores instituições financeiras mundiais, a partir dos Estados Unidos da América (EUA), e é uma referência incontestável na área dos mercados financeiros, referida por muitos como a ‘Dama de Ferro de Wall Street’. Ainda assim, quando se fala de investimentos, não gosta de grandes complicações. O melhor conselho que lhe deram, confidenciou-nos em entrevista, foi “investir sempre em qualidade e não em quantidade.”
Domitília dos Santos começou a trabalhar em Wall Street na década de 1980, quando a porta do mundo das finanças ainda estava fechada para muitas mulheres. Apesar da sua importância numa área tradicionalmente associada aos homens, contou ao MoneyLab que nunca sentiu qualquer dificuldade ou desafio acrescido ditado pelo género.
Na Morgan Stanley, onde trabalha desde essa altura, dirige a própria equipa de especialistas em aconselhamento de gestão de ativos, a The dos Santos Group, e tem clientes por todo o mundo. A sua profissão requer “muita disciplina, foco e vastos conhecimentos técnicos” e passa por aconselhar os clientes de acordo com o perfil de risco de cada um, tomar decisões sobre investimentos e acompanhar, de forma permanente, a evolução dos mercados. Ainda assim, quando a questionámos sobre quais os princípios fundamentais para uma boa gestão das finanças pessoais não hesitou: “gastar menos do que ganha e investir bem”.
Com um perfil de investimento “conservador”, Domitília prefere “investir em ativos financeiros e nunca em produtos”. Ainda assim, reconhece que os melhores investimentos da sua vida foram “comprar o apartamento em Nova Iorque e construir a casa de férias no Algarve”. O pior também não ficou esquecido. “Ter vendido, em 2008, ações do CitiBank da minha conta reforma.”
Fora do banco, a gestora de fortunas é uma apaixonada pelo desporto e os seus dias começam sempre cedo, às 5 horas da manhã, com jogging matinal. No tempo que lhe sobra, participa em ações de voluntariado que, aliadas à corrida, lhe permitem manter o equilíbrio de que precisa.
“Gastar menos do que ganha e investir bem” são alguns dos princípios essenciais para a boa gestão das finanças pessoais, referiu a gestora de fortunas do Morgan Stanley, ao MoneyLab
Com uma agenda tão preenchida, na qual parece impossível encaixar mais compromissos, ainda consegue arranjar espaço para ser docente universitária. Conhece o poder do ensino e considera que a melhor forma para melhorar a educação e a literacia financeira é “começar bem cedo, nas escolas e em casa.”
Soma aos seus cargos o de patrona do Museum of American Finance e de algumas comunidades artísticas em Nova Iorque: o MoMA, o Met. Museum of Art, a Metropolitan Opera e a N.Y Philharmonic.
A quem lhe quer seguir as passadas e ser bem sucedido na área financeira deixa três conselhos: “trabalhar muito, ter entusiasmo e a ambição de fazer o seu melhor a cada dia.”
Do Algarve a Wall Street
Domitília nasceu no Algarve na década de 1950 e tinha apenas 13 anos quando rumou aos Estados Unidos com a família. O ano era 1968 e o sonho americano estava à espera de ser realizado.
Começou a trabalhar muito cedo e foi somando vários empregos, mas isso nunca a impediu de estudar. Disse ao MoneyLab que “sempre quis ser advogada ou empresária.” Movida a muita força de vontade, formou-se em Ciências Políticas e História na Universidade de Drew e em Direito na Rutgers School of Law. Mais tarde, na London School of Economics, estudou Direito e Economia da União Europeia.
O percurso profissional de quase 40 anos tem sido dedicado, maioritariamente, às finanças, mas chegou a trabalhar como jurista. “Foi quando trabalhava no Legal Department da ONU, em Nova Iorque, que decidi mudar.” Um encontro com um colega de faculdade que trabalhava na área financeira e que lhe explicou tudo sobre a bolsa de valores, viria a transformar a vida desta mulher que, passado dois anos, já estava a marcar presença em Wall Street.
Antes de integrar a Merrill Lynch, em 1983, trabalhou numa grande sociedade de advogados. Seguiu-se um estágio no departamento de consultadoria financeira da Smith Barney, que é agora o Morgan Stanley. Se hoje não trabalhasse na área financeira, contou-nos, seria “empresária ou estaria a gerir uma empresa”.
Domitília dos Santos defende que a educação financeira deve “começar bem cedo, nas escolas e em casa”.
Dona de um percurso e de uma carreira notável, partilhou ainda aqueles que considera serem os seus rituais-chave para o sucesso: “exercício físico e muita, mesmo muita, leitura.” O que também a acompanha para todo o lado é a sua fé, que a leva a carregar sempre um terço na carteira, confidenciou-nos.
Apesar de ter construído carreira do outro lado do Atlântico, onde a vida “é muito mais intensa e competitiva”, Domitília pensa em regressar a Portugal, um dia. Mas não para já. O seu desejo a dez anos é estar “no mesmo sítio e a gerir ainda mais ativos financeiros.”
Enquanto não volta, mantém a ligação com o país que a viu nascer por intermédio do Conselho da Diáspora Portuguesa, do qual é membro desde 2013. Os seus feitos valeram-lhe ainda a outorgação do grau de Comendador da Ordem do Mérito em 2003, pelo antigo Presidente da República Portuguesa, Jorge Sampaio.