Sem literacia financeira, a liberdade para tomar decisões quer na vida profissional, quer na vida pessoal, fica limitada. Uma mulher que não tem controlo do seu orçamento, ou que não tem qualquer conhecimento sobre onde vai investir o seu dinheiro, também não saberá avaliar riscos nem se sentirá à vontade para falar sobre dinheiro e para fazer as perguntas certas no seu meio de trabalho. Estes foram alguns dos assuntos debatidos na conferencia “Let’s Talk about Money – o dinheiro e as mulheres”, que se realizou no dia 5 de novembro, no Salão Nobre da Câmara de Comércio e Indústria de Lisboa.
A conferência deu início com um pequeno exercício, proposto pela oradora Susana Albuquerque, que surpreendeu o público com 3 moedas de 1 cêntimo nas suas cadeiras. A coach de finanças pessoais, questionou a plateia sobre como reagiram quando encontraram o dinheiro. “Como encaramos este achado? Ficamos secretamente felizes, ainda que seja pouco dinheiro? Desprezamos completamente ou arrecadamos antes que alguém venha apropriar-se deles?”, questionou Susana Albuquerque, levando o público a questionar a relação que mantêm com o dinheiro.
Susana Albuquerque abordou vários assuntos que influenciam a forma como as mulheres gerem o seu dinheiro, como por exemplo, competências e valores pessoais, mitos, crenças e autoconhecimento. Apresentou os hábitos das mulheres que sabem gerir o seu dinheiro, mas também falou da falta de literacia financeira que é “transversal a todas as camadas da sociedade, independentemente do background e situação financeira.”
O que afasta as mulheres do mercado financeiro?
Paula Gil trouxe para a mesa o tema do investimento financeiro. O que afasta as mulheres deste mercado? É a falta de liquidez? É o desconhecimento? A diretora de particulares do banco BiG, apresentou um conjunto de causas que levam as mulheres a não se sentirem seguras para investir nos mercados financeiros. Considera que para quebrar estes receios as mulheres têm de questionar e que não precisam de ser especialistas no assunto para arriscar, afinal todas nós tomamos decisões importantes, nem sempre conhecendo todos os pormenores do assunto, como por exemplo, na compra de um carro ou de uma casa.
A conferência também contou com Isabel Neves, presidente do Clube de Business Angels de Lisboa e vice-presidente da Federação Nacional de Business Angels, e com a coach executiva Aida Chamiça que falaram sobre a importância da mudança de atitude das mulheres.
Isabel Neves explicou as características da sua função, reconhecendo que há um gap enorme entre homens e mulheres nesta profissão. “O perfil feminino de investimento é, tradicionalmente, mais conservador e avesso ao risco” afirma Isabel Neves. Além disso, as mulheres focam-se mais em áreas tradicionalmente associadas ao universo feminino, como o sector alimentar, moda e produtos de beleza, o que faz com que tenham muito menos financiamento, porque são áreas pelas quais os homens ainda não estão sensibilizados.
Aida Chamiça reforça a ideia de que as empresas deveriam apostar mais em workshops ou conferências de literacia financeira para que estes temas possam ser debatidos e incentivem as mulheres a procurar informação sobre a gestão do seu dinheiro.
Confiança e literacia financeira
Estes foram dois dos temas em discussão na mesa redonda, que contou com a participação de Bárbara Barroso, fundadora do MoneyLab e autora do blog As Dicas da Bá, Ana Torres, executiva da Pfizer responsável pelo Western Cluster Lead Rare Disease, Joana Janeiro, psicóloga clínica, Nuno Simões, Human Capital Coordinator da PwC Portugal, Cabo Verde e Angola, Paula Gil, do banco BiG, e Sofia Ribeiro, médica e consultora na área da saúde.
“A literacia financeira em Portugal é má, para homens e para mulheres”, adianta Bárbara Barroso, que conta que enquanto jornalista a acompanhar a situação de vários bancos, viu pessoas a perderem tudo o que investiram porque não tinham literacia financeira. Bárbara Barroso salientou ainda, a importância de saber fazer um IRS, de perceber de taxas de juro, da relação com o banco, pequenas coisas que são igualmente importantes e que têm impacto na vida das pessoas. Falando de investimentos, Bárbara afirma, ainda, que “as pessoas não assumem o risco, porque é desconhecido”. Para Paula Gil, as mulheres questionam mais do que os homens nestas situações, sendo a confiança e o contacto humano com o gestor de conta o mais importante para elas.