A gestora de ativos do banco norte-americano afasta o cenário de uma recessão em 2023 e aponta para uma desaceleração suave da economia. A JP Morgan Asset Management acredita que “já passámos o pico de pânico da inflação”, e, por esse motivo, estima que o Banco Central Europeu (BCE) alivie a sua política monetária ao avançar com uma subida das taxas de juro de 25 pontos base em Março.
“Temos vindo a assistir, ao longo das primeiras semanas deste ano, à melhoria das previsões económicas para a Zona Euro. O meu cenário base é o de que a recessão não irá acontecer no decorrer de 2023, e estamos mais confiantes de que haverá uma desaceleração leve, mas não profunda”, afirmou Hugh Gimber, estratega de mercado do JP Morgan Asset Management (JPMAM), numa conferência virtual acompanhada pelo MoneyLab.
Relativamente à evolução da inflação, o responsável enumera três fatores decisivos: a forte queda dos preços do gás registada nos últimos meses – preço do gás natural recuou 80% desde o pico do Verão – ajudará a reduzir o nível de inflação; os níveis de pressão salarial na Zona Euro não são iguais aos verificados nos Estados Unidos ou no Reino Unido; e a possível alteração da política monetária que o BCE vai implementar nos próximos meses.
“Quando olhamos para os próximos 12 meses, a meta de inflação de 2% do BCE não deverá ser atingida, mas se ficar perto de 3% até ao final do ano é uma perspetiva razoável. Ou seja, a inflação na Zona Euro vai descer este ano e acreditamos que já passámos o pico de pânico da inflação“, argumentou Hugh Gimber.
A política monetária do BCE
O responsável da JPMAM salienta que existem, atualmente, forças em conflito relativamente à política monetária que o BCE irá implementar nas próximas reuniões: revisão em alta das previsões económicas face ao cenário mais negativo antecipado nos últimos meses e uma queda da inflação mais rápida do que o inicialmente previsto.
Christine Lagarde, presidente do BCE, afirmou que o seu cenário base expectável era de uma subida das taxas de juro em 50 pontos base tanto em Fevereiro como em Março. Recorde-se que, em Dezembro passado, o BCE subiu as taxas de juro na Zona Euro em mais 50 pontos base, naquele que foi o quarto aumento consecutivo com vista a controlar a inflação.
“Com todo o respeito pelo BCE, já vimos muitas vezes no passado que o banco central gosta de ser dependente de dados e reativo ao fluxo de notícias, por isso não ficaria preso na possibilidade de 50 pontos base em Fevereiro e 50 pontos base em Março. Vemos mais progresso no tema da inflação e que a desaceleração vai começar realmente ganhar impulso. Nesse sentido, acredito que a desaceleração do BCE para um aumento de taxa de 25 pontos base em Março é bastante exequível“, estima Hugh Gimber.
De acordo com o gestor, este alívio da subida permitiria ao BCE estar mais próximo da Reserva Federal norte-americana que “deverá fazer uma pausa na subida das taxas nos próximos meses, devido ao progresso extra que a economia dos Estados Unidos está a fazer para controlar a inflação”.
A China e o enfraquecimento do dólar
A reabertura da China, depois de três anos de restrições rígidas da política de ‘Covid Zero’, vai implicar um aumento da inflação mundial? “Acreditamos que não. Considero que é muito mais provável que haja uma procura maior por parte do consumidor e de bens na China. Não antecipo um grande aumento nos preços das matérias-primas que poderia aumentar novamente a inflação na Europa ou nos Estados Unidos, tendo em conta a desaceleração que vimos em outras partes do mundo desenvolvido”, respondeu Hugh Gimber.
O gestor da JPMAM acrescenta o crescimento global fora dos Estados Unidos, aliado às notícias positivas na Europa relacionadas com os preços do gás e à reabertura da China, poderá resultar “num enfraquecimento modesto do dólar em 2023, não só face a um cabaz alargado de divisas como face ao Euro”.
Em resumo, Hugh Gimber estima “um crescimento, ainda não muito bom, mas muito, muito menos preocupante do que a posição em que estávamos há alguns meses. Esperamos uma diminuição da inflação ao longo deste ano, que pode acontecer rapidamente no primeiro semestre, devido à mudança nos preços do gás. Relativamente à política monetária, definitivamente mais para vir do BCE, mas talvez chegando a um ponto em que o banco central se sinta mais à vontade para pensar em fazer uma pausa daqui a alguns meses. E, nas avaliações, estamos numa posição melhor do que estávamos há um ano, mas havendo ainda potencial para mais volatilidade”.