Pela primeira vez em sete anos, o governo federal dos Estados Unidos entrou em ‘shutdown’, uma paralisação parcial das suas atividades.
Um ‘shutdown’ acontece quando o Congresso não aprova a tempo o orçamento ou medidas temporárias de financiamento para as agências ligadas ao Estado. Sem esse dinheiro, milhares de serviços públicos ficam suspensos e muitos funcionários governamentais deixam de receber salário até que haja acordo político.
Na prática, isto significa pausa em vários serviços federais, como licenciamento de atividades, emissão de dados económicos, parte dos serviços administrativos, entre outros. Normalmente, os trabalhadores são dispensados temporariamente e regressam ao trabalho quando o impasse termina, mas neste caso há sinais de que o processo poderá ser mais prolongado.
Historicamente, Wall Street e os mercados financeiros tendem a minimizar os efeitos de ‘shutdowns’, encarando-os mais como ruído político do que como um risco real para a economia. No entanto, desta vez o cenário é mais delicado sobretudo devido a dois pontos:
- A economia norte-americana está numa situação frágil: o mercado de trabalho está a arrefecer, a inflação continua elevada e há uma crescente tensão entre a administração Trump e a Reserva Federal (FED).
- Um ‘shutdown’ prolongado significa ausência de dados económicos cruciais, dificultando a vida da FED e das empresas. O próprio Departamento do Trabalho já alertou que não publicará o relatório com os números do emprego previsto para sexta-feira, caso a paralisação se mantenha. Também o índice de preços ao consumidor (CPI) de outubro, essencial para medir a inflação, poderá ficar em suspenso.
Quando vamos analisar quem poderá ser mais penalizado com este cenário, podemos destacar:
- Mercado de IPOs: as empresas privadas que queriam entrar em bolsa ficam em “fila de espera”, já que a Comissão de Valores Mobiliários americano (SEC) praticamente deixa de funcionar.
- Setores regulados e ligados ao governo: companhias dependentes de contratos federais, algumas empresas de saúde, e setores sensíveis a taxas de juro podem sofrer mais com a incerteza.
- Indústria da defesa: sem aprovação de um orçamento anual completo, pode perder o momentum, apesar de alguns analistas considerarem que isso pode criar oportunidades a longo prazo.
- Restaurantes em Washington, DC: algumas cadeias de restauração que vivem da clientela ligada ao governo, vão sentir a quebra de movimento.
Por outro lado, num clima de instabilidade, tem sido o ouro a brilhar: atingiu máximos históricos e já valorizou 47% este ano, a melhor performance desde 1979. A prata ainda mais: 63%. Estes metais preciosos são vistos como porto seguro pelos investidores que procuram proteção.
Resumindo, se, no passado, os ‘shutdowns’ foram episódios de curta duração e de impacto global limitado, o contexto atual confere a este caso um risco acrescido. A ausência de dados oficiais pode deixar empresas e a Reserva Federal a “navegar às cegas”, enquanto alguns setores económicos ficam em suspenso.