A Europa – Portugal incluído – já antecipa o impacto na economia das tarifas dos Estados Unidos e respetivas tarifas recíprocas europeias. Em abril, começa uma nova fase das tensões tarifárias globais e a incerteza paira no ar. Que tarifas são estas e que riscos existem para a carteira de quem vive em Portugal? Saiba como se proteger da guerra tarifária.
No próximo dia 2 de abril (quarta-feira), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, vai revelar um novo plano de tarifas dos Estados Unidos sobre as importações oriundas de parceiros comerciais. O que se pode esperar?
Desde a sua tomada de posse que Donald Trump tem vincado uma política de pesadas tarifas às importações de alguns países. Várias tarifas têm sido anunciadas pela Casa Branca – a importações do Canadá, México e União Europeia, por exemplo –, gerando respostas de tarifas de retaliação nos países visados.
No entanto, tudo tem estado envolto em grande incerteza. A aplicação deste agravamento das tarifas dos Estados Unidos (e das tarifas de retaliação) tem conhecido avanços e recuos, desde fevereiro.
Atualmente, os Estados Unidos impõem 25% sobre todas as importações aço e alumínio e 20% nas importações chinesas. As tarifas de 25% sobre importações do Canadá e México, anunciadas logo em fevereiro, estão em pausa até 2 de abril, altura em que Trump anunciará o que se segue em termos de política tarifária.
No caso da Europa, Trump tinha anunciado anteriormente tarifas de 25% nas importações europeias, com Bruxelas a anunciar a retaliação nas tarifas, em duas fases. Também aqui se aguarda indicações sobre se estas políticas tarifárias se mantêm ou se há margem para negociações e alívio das taxas.
O “Liberation Day”
Para dia 2 de abril, Trump anunciou um “Liberation Day” para o comércio dos Estados Unidos, com a divulgação das tarifas que passarão a ser implementadas, no âmbito de uma política comercial ambiciosa e protecionista. É, portanto, neste dia que deverão ser divulgadas quais as tarifas que avançam, sobre que países e em que datas.
No entanto, nesta segunda-feira, o presidente norte-americano já deu indicação de que as tarifas anunciadas dia 2 poderão ser menos impactantes do que o esperado e o que alguns países poderiam até beneficiar de uma “pausa” nas tarifas recíprocas.
A incerteza do atual contexto – com o avanço e recuo de tarifas e retaliações – tem afetado as bolsas de valores, sobretudo os títulos norte-americano. Os mercados estão altamente voláteis e sensíveis à tensão tarifária global.
Impacto na inflação e no crescimento económico
A tensão tarifária que se está a gerar entre os vários blocos faz também crescer preocupações com o comércio global, a economia e um possível impacto nas famílias e empresas.
Em Portugal, as questões tarifárias podem reduzir o Produto Interno Bruto (PIB) em 0,7% ao fim de três anos, numa redução mais concentrada no primeiro ano. Na Zona Euro, o impacto das tarifas poderá contrair o PIB entre 0,5% e 0,7%, também ao fim de três anos.
Estas são estimativas do Banco de Portugal, divulgadas no “Boletim Económico de março”, caso as tarifas norte-americanas de 25% nas importações europeias entrem em vigor e provoquem uma retaliação semelhante.
O Banco de Portugal junta-se a diversas instituições que já alertaram para os impactos económicos das tarifas, assentes num aumento da incerteza global. “A materialização de um cenário de aumento de tarifas pelos EUA às importações da UE, envolvendo retaliação e aumento da incerteza/redução da confiança, teria um impacto negativo relevante na atividade económica em Portugal”, reforça a instituição.
Do lado norte-americano, Jerome Powell, presidente da Reserva Federal (Fed) dos EUA, admitiu, também este mês, que as tarifas anunciadas por Donald Trump estão a ter impacto na subida da inflação e contribuem para um atraso na meta de 2% estabelecida pelo Banco Central.
Numa intervenção em que referiu a “incerteza” do cenário económico, Powell também ajustou as previsões do PIB norte-americano para este ano: de 2,1% para 1,7%.
Tarifas: um efeito bola de neve
As tarifas aduaneiras são uma estratégia económica protecionista, mas podem criar incerteza na economia global e criar pressões inflacionistas ao longo da cadeia de proteção e consumo.
É um efeito bola de neve, que cresce à medida que as tarifas sobem e que são criadas também tarifas de retaliação. Porquê?
As tarifas aumentam os custos de importação e, no caso de matérias-primas, encarecem a produção e novos produtos. Este efeito acaba por afetar os diversos setores e a economia, de forma geral. Os produtos chegam mais caros aos consumidores finais e impactam a carteira das famílias.
À medida que as tarifas e retaliações escalam, os efeitos alastram.
Em paralelo, as cadeias e abastecimento globais são afetadas, as trocas comerciais globais diminuem (ou alteram-se, em função de novas alianças e acordos). Há também efeitos cambiais a ter em conta, dependendo de como cada economia reage às pressões tarifárias e à incerteza.
Como proteger a carteira de uma guerra tarifária?
Como referido, os “salpicos” das tarifas norte-americanas e respetivas retaliações podem influenciar os preços e a economia nacionais, afetando a carteira dos portugueses.
O que fazer para defender a sua carteira? Estas são algumas estratégias possíveis para gerir o dia a dia e os seus investimentos, num contexto de guerra tarifária.
- Dê prioridade à compra de produtos locais e europeus
Evite o impacto das tarifas aduaneiras, apostando em produtos produzidos na Europa ou em Portugal, que são menos suscetíveis a aumentos de preços com tarifas. - Antecipe a compra de bens importados
Se precisar de produtos importados, considere comprá-los antes de possíveis tarifas entrarem em vigor, aproveitando os preços atuais. - Reforce o seu fundo de emergência
Prepare-se para um cenário possível de inflação crescente e maior instabilidade, mantendo uma reserva para cobrir imprevistos. - Ajuste a sua carteira de investimentos, caso necessário
De acordo com a sua estratégia e o seu perfil, avalie se faz sentido alocar ativos de proteção ao seu portfólio. - Evite decisões impulsivas
A volatilidade no mercado pode aumentar com as tarifas e retaliações, mas é essencial manter a calma. Decisões motivadas pelo pânico podem prejudicar a sua carteira a longo prazo. - Mantenha a diversificação no seu portfólio de investimentos
É uma das boas práticas financeiras e uma estratégia fundamental para atravessar contextos de elevada volatilidade: diversifique investimentos, para distribuir o risco entre diferentes ativos, setores e geografias. - Evite deixar dinheiro parado
Com a inflação em alta, o dinheiro na conta à ordem vai perdendo valor. Procure formas de rentabilizar o seu dinheiro para que este não seja “corroído” pela inflação.